“Prezado professor, parece que a palavra ‘escatológico’ tem significados completamente diferentes, até opostos. Um referindo-se a assuntos referentes à divindade e o outro a fezes. É isto mesmo?” (Narciso Lopes)
Narciso tem razão: existem duas escatologias em português. Não se trata de duas acepções para o mesmo substantivo, mas de palavras distintas que, embora tenham formação e sentidos muito diferentes – ainda que não opostos, como afirma Narciso –, são escritas exatamente da mesma forma.
O adjetivo “escatológico” pode ser derivado do substantivo “escatologia” que significa “teoria acerca das coisas que hão de suceder depois do fim do mundo; teoria sobre o fim do mundo e da humanidade”.
Mas há também o adjetivo “escatológico” – este de uso mais frequente – que se refere à escatologia como “tratado acerca dos excrementos, coprologia” ou, em acepção ampliada, “utilização ou gosto por expressões ou assuntos relacionados a fezes ou obscenidades”. (Todas as definições são do dicionário português Priberam.)
O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada. O escatológico que trata das implicações teológicas do fim do mundo – sobretudo o Juízo Final – é uma palavra cunhada no século XIX a partir do grego éskhatos, que significa “extremo, último”.
O escatológico que se relaciona a fezes também é um termo criado no século XIX a partir do grego, mas neste caso a palavra de origem é diferente: skatós, “excremento”.