“Olá, Sérgio. Como surgiu a expressão ‘fiel da balança’ e por que a usamos como um fator de desempate? Grande abraço.” (Luís Carlos Durans)
A consulta de Durans nos lança no interessante campo da etimologia popular, em que uma antiga interpretação equivocada ou imaginosa de uma palavra acaba por alterar seu rumo histórico. O que começa como falsidade passa a ser verdadeiro, pelo simples fato de que inaugura uma nova verdade.
Um exemplo clássico desse processo é a palavra floresta. Vinda do francês arcaico forest (hoje forêt), ela se misturou na fala do povo com o latim floris, que a princípio não tinha nada a ver com isso. Agora tem. Já não há como separar a floresta da flora.
A expressão trazida por Durans é oriunda do espanhol fiel de la balanza. O sentido literal desse fiel é exposto assim pelo Houaiss: “pequeno fio retilíneo de ferro, metal ou outro material, sobreposto a uma superfície na qual indica algo; haste, ponteiro”. Pois é: o fiel é simplesmente o ponteiro da balança. E onde a criatividade popular entra nessa história?
Bem, a origem do fiel espanhol é, segundo o superfilólogo catalão Joan Corominas, o latim filum, ou seja, fil (“fio” em português). Sua fusão com o latim fidelis (“fiel, confiável, digno de fé”), uma palavra de procedência muito diferente, se deu por meio da ideia de que a tal balança, sendo merecedora de confiança, indicava a verdade.
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