Os quatro responsáveis diretos pela tragédia do Museu Nacional
Quatro burocratas também devem explicações sobre o incêndio
Há quatro responsáveis pelo incêndio de ontem no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, uma das instituições mais importantes da educação e cultura brasileira: Marcelo Mattos Araújo (presidente do Instituto Brasileiro de Museus até poucos dias atrás), Roberto Leher (reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a mantenedora do museu), André Esteves da Silva (pró-reitor de Gestão e Governança da UFRJ) e Taiana Fortunato Araújo (Superintendente de Patrimônio da UFRJ).
Mattos Araújo e Leher são muito mais responsáveis pela tragédia do que qualquer político. Ocupam posições político-administrativas de confiança e tinham a obrigação de estarem cientes da vulnerabilidade do Museu Nacional.
Qualquer presidente do Instituto Brasileiro de Museus precisa estar antenado com as melhores práticas internacionais de museologia e buscar firmar parcerias com outros países . Para isso, Mattos Araújo foi para a China, em abril deste ano, participar do “Fórum de Aliança de Museus de Arte e Galerias do BRICS”. Recebeu,em diárias, R$ 3.839,00. Mas não será melhor fazer o básico antes, como cuidar de normas básicas de segurança contra incêndios? Ter funcionários dedicados e preparados para lidar com isso?
Quando Mattos Araújo entregou o cargo, Sérgio Sá Leitão, o ministro da Cultura, afirmou que ele “demonstrou a mais absoluta competência na gestão da política pública museológica e dos museus federais brasileiros”. No release, o ministério afirma que Araújo “dedicou-se à qualificação do Instituto Brasileiro de Museus na gestão de museus federais e à promoção de diálogo com os cerca de 3,6 mil museus brasileiros”. Se ele era tão bom assim, talvez Sá Leitão deva chamá-lo imediatamente de volta ao cargo.
O reitor Roberto Leher decidiu culpar os bombeiros. É uma cara-de-pau espantosa. O orçamento da UFRJ é mais do que suficiente para manter o museu em bom estado. Se Leher não sabia da situação, é incompetente. Se sabia, é omisso e merece processo administrativo . O mesmo vale para André Esteves da Silva e Taiana Fortunato.
Havia uma auditoria do Museu Nacional prevista para 2015, de acordo com o relatório de gestão entregue pela UFRJ ao TCU em 2016, mas cancelada por conta da greve de maio a outubro daquele ano. Pior ainda: um incêndio em 3 de outubro de 2016 “devastou totalmente”, segundo o relatório, três pró-reitorias da universidade – inclusive a de Gestão e Governança!
Taiana está no cargo de superintendente do patrimônio da UFRJ desde setembro de 2017. É concursada no Inmetro há dez anos e foi “emprestada” para a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essa superintendência tem como função “estabelecer normas para a administração patrimonial e exercer a gestão dos bens patrimoniais, bem como manter seu inventário e controle permanente” https://gestao.ufrj.br/index.php/patrimonio Taiana é a responsável mais direta, na hierarquia da UFRJ, pela situação. É a “burocrata de médio escalão” com jurisdição específica para cuidar da integridade física do museu. Falhou.
O mapa estratégico do Instituto Brasileiro de Museus, estabelecido em 2013 e disponível no relatório de gestão do instituto referente a 2016, tem 20 pontos. O décimo-primeiro é “estimular a modernização da gestão dos museus”.
Mas o básico não traz votos nem reconhecimento burocrático.
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