Leandro Prior, soldado da Polícia Militar, beijou um homem. Um vídeo do fato circulou na internet. Leandro recebeu ameaças de morte nas redes sociais e de outros policiais militares. Pediu licença médica. Segundo a Polícia Militar, Leandro deverá sofrer apuração administrativa por “demonstrar postura incompatível com os procedimentos de segurança que se espera de um policial fardado e armado, que exigem que esteja alerta”. É muito difícil acreditar que isso aconteceria se Leandro tivesse beijado uma mulher. Aliás, se assim fosse, nem haveria vídeo circulando.
A polícia também está apurando as ameaças homofóbicas feitas ao soldado no Facebook. Em uma delas, um suposto policial escreve: “Aqui não aceitamos um policial fardado em pleno metrô beijando um homem na boca. Desgraçado desonra (sic) para minha corporação. Esse tinha que morrer na pedrada! Canalha safado!”.
Estamos em 2018. John Lennon compôs “You’ve got to hide your love away” 53 anos atrás. (Suspeitava-se de um romance entre ele e Brian Epstein, empresário dos Beatles. Paul McCartney e Yoko Ono garantem que nunca aconteceu.) São Paulo é sede, desde 1997, de uma das maiores paradas LGBT do mundo. O primeiro beijo homossexual entre homens televisionado em novela brasileira foi em 2014, entre Matheus Solano e Thiago Fragoso, na Globo.
Cientificamente, o Brasil tem alguns componentes importantes para não ser um país homofóbico. Estudiosos do assunto, os cientistas políticos Victor Asal, Udi Sommer e Paul Harwood mostram que países que têm sistema jurídico de civil law em vez de common law e cuja principal religião não é islâmica tendem a descriminalizar práticas homossexuais. Quanto mais rico o país, também é menor a chance de atos homossexuais serem considerados crime. No Brasil, homossexualidade não é crime desde 1830! (O artigo é “Original Sin: A Cross-National Study of the Legality of Homosexual Acts” e foi publicado na Comparative Political Studies em 2012.)
Mas 188 anos depois um beijo gay ainda motiva “apuração administrativa” de um órgão burocrático. Inacreditável.
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