Com apenas 26 anos, a representante comercial Laura (nome fictício) precisou remover completamente um seio por causa de um câncer de mama. Com histórico familiar da doença que a colocava em situação ainda mais arriscada, a decisão do médico foi pela mastectomia, como é chamada a cirurgia para remoção total da mama. “Foi um choque. A sensação era de que o mundo tinha acabado, que iria morrer”, contou a VEJA a moradora de Caxias do Sul, na serra gaúcha. A situação de Laura não é incomum: somente em 2018, o câncer de mama deve atingir 60.000 novas vítimas no Brasil segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Após a mastectomia, Laura teve seu seio reconstruído por plástica, mas a operação para combater o câncer também removeu a aréola e o bico da sua mama. “Como a doença é muito grave, eu nem me preocupava com a questão estética, só queria saber da cura. Mas com o passar do tempo, ficou difícil. A gente olha no espelho e vê que está faltando alguma coisa. Minha cicatriz é toda ali nessa área. Tudo ficou ali”, disse à reportagem.
Agora, aos 35 anos, a representante comercial está com sua autoestima recuperada após passar por um procedimento que reconstruiu o mamilo por meio de uma micropigmentação, método parecido com uma tatuagem. A pintura usa diferentes tons de tintas para deixar a pintura realista de forma que pareça ter volume.
O procedimento de Laura foi feito de forma voluntária pela especialista Andréia Ferreira, de 29 anos, que tem cinco anos de experiência na área. A profissional atende gratuitamente mulheres que passaram pela retirada das mamas. “Se a mulher tem um das mamas, analiso as cores e o formato para fazer uma nova aréola e bico. Quando a mulher passou por uma mastectomia nos dois seios, peço as fotos de antes da cirurgia, estudo a cor da pele e as características. Trabalho para deixar o resultado o mais próximo possível do que era. É um trabalho muito delicado porque precisa parecer natural”, explicou Andréia.
Cada mama leva em média uma hora e trinta minutos de trabalho. Andréia tem a agenda lotada para atender clientes que fazem design e micropigmentação nas sobrancelhas, mas abre o calendário para o trabalho voluntário para as mulheres que passaram pelo câncer. “Não cobro para fazer porque a pessoa já passou por todo um sofrimento, não conseguiria tirar um valor tão alto”, contou. O procedimento pode custar de 800 a 1.500 reais em cada mama.
A profissional tem ajudado também pessoas que sofrem de outras enfermidades, como a alopecia, uma doença autoimune e sem cura que faz com que as pessoas percam os cabelos e pelos do corpo, como as sobrancelhas. Andreia já reconstruiu, também voluntariamente, as sobrancelhas de diversos homens que sofrem de alopecia.
Laura comemora o resultado: “Ficou lindo, ficou perfeito. A sensação é a de voltar a se sentir mulher de novo”. Para Andreia, a satisfação de quem foi atendido é o melhor pagamento. “Essa é a parte mais incrível. Do momento em que olham o resultado na hora ao retorno posterior sobre como se sentiram completas de novo. Muitas tinham vergonha de ficar sem sutiã perto dos parceiros. A qualidade de vida e autoestima muda muita coisa na vida delas”, disse a especialista.