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Temer deixa ‘legado’ apesar das pesquisas, diz Ana Amélia

VEJA publica nesta semana entrevistas com os senadores gaúchos Ana Amélia Lemos (Progressistas), Lasier Martins (PSD) e Paulo Paim (PT)

Por Paula Sperb
Atualizado em 4 jun 2024, 16h45 - Publicado em 28 dez 2017, 13h27

Para a senadora Ana Amélia Lemos (Progressistas-RS), o presidente Michel Temer (PMDB) “deixou legado mesmo que as pesquisas não reconheçam”. Para Ana Amélia, o presidente tem “capital político” mesmo com a popularidade baixa. Isso porque conseguiu articular o arquivamento de suas denúncias e votar reformas. “Se a Dilma tivesse feito o que o Temer fez com o Congresso, não tinha sofrido impeachment”, opina. Além da entrevista com Ana Amélia, VEJA também ouviu os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Lasier Martins (PSD-RS). A entrevista com Paim pode ser lida neste link e a entrevista com Lasier pode ser lida aqui.

Ana Amélia ainda defende que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que terá seu recurso julgado pelo TRF4 em janeiro, possa participar da eleição presidencial. “Independentemente do que a justiça decidir, acho que para evitar vitimizar o Lula, ele deveria ir às urnas mesmo”, opinou.

Em 2017, a senadora atuou especialmente na área da saúde. “Quando você trabalha nessa causa, todos te procuram”, contou à reportagem. Além disso, Ana Amélia defende a reforma trabalhista e acredita que a reforma da Previdência deveria ser votada depois das eleições presidenciais. Para ela, “o governo perdeu a guerra da comunicação” da reforma da Previdência ao não ter explicado os números “didaticamente” e de forma “isenta”. Segundo a parlamentar, a oposição “venceu a narrativa” combatendo a reforma.

Abaixo, a entrevista com a senadora:

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‘Feminismo’ foi eleita a palavra do ano. Como é ser uma mulher em um ambiente majoritariamente masculino? Acredita que uma maior participação feminina na política é importante?

Sempre trabalhei em ambiente majoritariamente masculino. Quando cheguei em Brasília, em 1979, para trabalhar como jornalista, 90% dos colegas eram homens. Não havia mulheres no Supremo Tribunal Federal (STF), hoje já existem três mulheres na suprema corte. Há mulheres nas Forças Armadas, embaixadoras, delegadas e promotoras. A ascensão das mulheres no campo das “carreiras de estado” é extraordinária. Por que isso acontece? É por concurso público, ou seja, as mulheres têm muito sucesso nesses embates. No Senado, a composição que encerra em 2018 tem 12% de mulheres, uma ascensão mais gradual. Mesmo assim, a participação das mulheres está muito mais na vontade de entrar na política do que na criação de cotas artificiais. A eficácia maior é criar condições para disputar eleições. Na política, a mulher fica superexposta, mais do que os homens. A mulher é esquadrinhada: os passos que dá, o que veste, o que come, onde vai. Se quero igualdade, tenho que ser igual. Não quero que me tratem com delicadeza porque sou mulher, quero que me tratem como senadora. O crivo muito perverso.

A mulher é esquadrinhada: os passos que dá, o que veste, o que come, onde vai. Se quero igualdade, tenho que ser igual. Não quero que me tratem com delicadeza porque sou mulher, quero que me tratem como senadora. O crivo é muito perverso

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Neste ano, a atuação da senhora foi marcada por temas voltados à saúde, com projetos para viabilizar pesquisas científicas de novos medicamentos, para criar fundos para pesquisas e até para validar receitas médicas em todo território nacional. Por que a escolha por essa área?

A demanda é essa. Atendo a demanda da sociedade. Cheguei ao Senado defendendo a agricultura e hoje defendo a saúde. Metade do orçamento que mando para o Rio Grande do Sul em emendas, nesse ano mais de 12 milhões de reais, são para ambulâncias, hospital comunitário, equipamentos. Quando você trabalha nessa causa, todos te procuram. “Vai lá que a senadora resolve”. De todos os projetos, o mais importante é o que obriga os planos de saúde a fornecer a quimioterapia oral aos pacientes que tratam câncer, em vigor há três anos. É um tratamento muito caro, tem muita diferença na vida das pessoas. Um dia estava em um voo lotado, de Brasília para Belo Horizonte, e o comandante da aeronave disse aos passageiros: “Tem muita coisa errada na política, mas a gente precisa reconhecer o que há de bom. A autora da lei que obriga os planos a oferecer quimioterapia oral está no nosso voo”. Chorei durante o trajeto.

Além da saúde, a senhora atua nas questões ligadas aos agricultores. Os recursos para a agricultura familiar devem diminuir 35% em 2018. Qual sua expectativa para o setor?
Desde 2006 o Brasil não tem um censo agropecuário. É uma vergonha internacional que um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo não tenha dados atualizados sobre a situação socioeconômica, renda e como vivem os agricultores. O recurso para um novo censo não estava previsto, então fiz uma emenda parlamentar para destinar verba para a realização do censo, que deve ser concluído em fevereiro. Com informações precisas, é possível definir políticas públicas melhores para os agricultores.

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Como a senhora avalia a reforma trabalhista?
O que foi feito foi uma atualização. Estamos no século XXI, a reforma não feriu nem tirou nenhum direito essencial dos trabalhadores. Apenas ajustou à realidade do mercado. Hoje se nota uma movimentação mais ativa porque deu mais segurança aos trabalhadores e às empresas. Vamos ver o resultado. A gente tem que fazer as leis e, se não dão certo como imaginava, tem que mudar, não tem que insistir. Se na prática não funciona como imaginou, tem que ter a honestidade e humildade de mudá-la.

O que foi feito foi uma atualização. Estamos no século XXI, a reforma não feriu nem tirou nenhum direito essencial dos trabalhadores. Apenas ajustou à realidade do mercado.

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Qual a opinião da senhora sobre a reforma da Previdência?
O governo perdeu a guerra da comunicação. Antes de começar a falar da reforma, tinha que mostrar toda a situação. O governo precisava ter feito uma explicação didaticamente isenta. Ao perder a guerra da comunicação, permitiu que a oposição, que não sabe governar mas sabe fazer oposição, ganhasse a narrativa. Quanto mais a eleição se aproxima, mais dificuldade tem para aprovar. É necessária, mas não contem comigo para mexer ou fazer qualquer coisa que venha tirar direitos da agricultura familiar. É um compromisso meu com a Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura). Penso que o governo deveria esperar a eleição. Com um presidente eleito com a legitimidade do voto popular, promoveria essa alteração. A crise é muito grave e não é só um problema brasileiro. Penso que o presidente Michel Temer (PMDB) fez esforço, conseguiu muitas coisas, como aprovar o teto dos gastos, a reforma do ensino médio. Deixou legado mesmo que as pesquisas não reconheçam. É preciso ter racionalidade para reconhecer Temer, assim como tenho racionalidade para reconhecer que o Bolsa Família criado por Lula (PT), e o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), criado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB,) foram importantes. É senso de justiça.

O presidente Michel Temer (PMDB) fez esforço, conseguiu muitas coisas, como aprovar o teto dos gastos, a reforma do ensino médio. Deixou legado mesmo que as pesquisas não reconheçam.

Como a senhora avalia politicamente o ano de 2017?
O mais negativo foi o Supremo Tribunal Federal (STF). Gostaria de ver uma suprema corte menos politizada. Pediria menos bate boca e mais compromisso no combate à corrupção. Proponho que os ministros por um limite de dez anos e que haja uma carência de quatro anos para quem ocupou cargo executivo antes de entrar na corte. Por sua vez, na política, o presidente Temer soube, como ex-presidente da Câmara, articular o não acolhimento das denúncias contra ele e conseguiu as condições de governabilidade que lhe permitiu votar as questões da reforma. Não é um capital político desprezível, mesmo que esteja com popularidade baixa. Se a Dilma tivesse feito o que o Temer fez com o Congresso, não tinha sofrido impeachment. Ela não quis conviver com o Congresso, nunca quis ter uma convivência mais próxima e respeitosa. Pior é uma ditadura. É melhor conviver com o Congresso que está aí, ungido pelo voto popular.

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser condenado em segunda instância em janeiro pelo caso do tríplex do Guarujá. Como isso pode afetar a eleição?
Independentemente do que a justiça decidir, acho que para evitar vitimizar o Lula, ele deveria ir às urnas mesmo. As provas são contundentes, robustas e indiscutíveis. Politicamente, eu gostaria que ele estivesse no jogo político para não dizer que foi impedido. Juridicamente, é um acinte que com todas as provas testemunhais e materiais venham com essa conversa mole de criticar delação. Falar mal da delação é não ter argumentos na defesa. A Lava Jato é uma unanimidade nacional. Os valores da honestidade e responsabilidade vão prevalecer. Mas a sociedade não pode terceirizar a ética, não é só o Senado que tem que ser ético. Queremos o valor da esperteza ou do trabalho?

Politicamente, eu gostaria que ele estivesse no jogo político para não dizer que foi impedido. Juridicamente, é um acinte que com todas as provas testemunhais e materiais venham com essa conversa mole de criticar delação.

O Senado fica desmoralizado diante da população ao proteger parlamentares como no caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que retomou seu mandato depois de afastado pelo STF?
Não faço julgamento do voto dos outros. Votei pela minha consciência pelo afastamento dele, assim como votei na cassação do mandato do Demóstenes Torres, Delcídio do Amaral e pelo impeachment da presidente Dilma. É uma coerência minha.

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