A jovem de 19 anos que registrou boletim de ocorrência relatando ter sido marcada com uma suástica, símbolo do nazismo, em Porto Alegre, desistiu de dar continuidade à denúncia. Ela abriu mão da chamada representação criminal e tem seis meses para retomar a denúncia, caso deseje. A Polícia Civil, entretanto, seguirá investigando o caso.
Ela conta ter sido agredida ao descer do ônibus na noite de segunda-feira, 8 por três homens que a identificaram como LGBT e apoiadora do movimento #elenão [contra Jair Bolsonaro (PSL)]. O boletim de ocorrência foi registrado no dia seguinte, e o caso foi divulgado nas redes sociais por uma jornalista moradora de Brasília, amiga da estudante. O exame de corpo de delito deve ficar pronto em até 30 dias.
O delegado responsável pelo caso, Paulo Jardim, afirmou que o desenho gravado não é uma suástica, mas um símbolo budista, de “paz e amor”. A afirmação se deve ao fato de o ícone no corpo da vítima estar invertido (veja a reprodução do símbolo budista abaixo) em relação ao símbolo nazista.
Ele investiga grupos nazistas no Rio Grande do Sul há 15 anos De fato, existe um símbolo do budismo que lembra a suástica. Porém, o contexto da denúncia da garota indica que a intenção dos agressores seria a de marcar um símbolo nazista, mesmo que errado, e não um símbolo budista.
“Ela não desejou representar criminalmente. Inicialmente, ela não tinha interesse em fazer o registro, só fez [o B.O] porque uma amiga queria colocar a notícia no Facebook, para dar mais qualidade [ao relato]”, disse o delegado a VEJA sobre o depoimento que tomou da jovem na terça-feira, 10.
Questionada sobre a afirmação, a advogada da estudante, Gabriela Souza, que acompanhou o depoimento, disse que ela está muito assustada com a repercussão. “Eu estava junto. Temos que lembrar que ela é uma menina de 19 ano, respeitar o ‘luto’ e o medo dela [após a agressão]. Ela ficou com receio, não contou para os pais. Tive que falar com a mãe dela, é muito grave, estão caindo em cima dela [nas redes sociais]”, afirmou à reportagem.
Sobre a afirmação de se tratar de um símbolo budista, a advogada diz que não se pode “confundir um símbolo de ódio com um símbolo de amor”. “As pessoas não olham o contexto, ele olhou um símbolo e viu as ‘pernas’ da suástica para outro lado e disse que era símbolo do amor”.
Segundo Jardim, a Polícia Civil continuará investigando, mesmo que a jovem tenha desistido do caso neste momento. A intenção, segundo o delegado, é esclarecer o que ocorreu e descobrir se há “outro tipo de crime”, sem especificar quais.