Colorido e brilhante, o glitter usado para pintar o corpo para pular Carnaval é um “micro plástico”. Após o banho, o glitter cai na água e escapa dos filtros das estações de tratamento por ser minúsculo. Ao chegar no oceano, o glitter prejudica a vida marítima conforme diversos estudos científicos. O glitter pode ser consumido por peixes que, eventualmente, podem servir de alimento para humanos.
Por isso, empreendedoras do Rio Grande do Sul estão fabricando purpurina biodegradável. Em Porto Alegre, tanto a Viva Purpurina Biodegradável quanto a Glitter Ecológico comercializam os brilhos que não prejudicam a vida marinha e também são atóxicos e, por isso, indicados para enfeitar as crianças com segurança. Ambos negócios foram criados por jovens gaúchas em janeiro, de olho no Carnaval que inicia.
A Viva Purpurina foi fundada por três sócias de 25 anos há apenas três semanas, mas já recebeu encomendas de estados como Acre, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e até do exterior – um lote foi comprado da Espanha.
“A gente sempre pulou Carnaval, ia para o Rio de Janeiro e usava as purpurinas tradicionais. Quando a gente viu sobre a poluição do microplástico, pensamos em mudar e fazer o nosso próprio. Depois os amigos compraram, criamos perfis na internet e fugiu do nosso controle, trabalhamos sem parar. A gente não está tendo vida, é purpurina o dia inteiro”, contou a VEJA Ingrid Sant’Anna, estudante de arquitetura. Ingrid é uma das sócias da Viva Purpurina Biodegradável ao lado das biólogas Elisa Ilha e Julia Beduschi.
O diferencial do glitter ecológico criado por elas é não seguir as receitas biodegradáveis da internet: elas inventaram uma fórmula nova. “Testamos aquelas com sal e açúcar, mas parecia uma areia no rosto. Então usamos ingredientes alimentícios, corante comestível e pó mineral”, explicou Ingrid.
Um vidrinho de 18ml, maior do que os brilhos convencionais, custa 10 reais e as encomendas podem ser feitas pela internet. Os foliões também podem encontrar as sócias em alguns dos “bloquinhos” do Carnaval de rua em Porto Alegre ou no Rio de Janeiro, onde Ingrid está para curtir a festa e vender o produto.
A empresa Glitter Ecológico, da designer Marianne Barbosa Gaspary, de 26 anos, também não segue as fórmulas populares da internet. Mariana usa gelatina incolor, pigmento vegetal e mineral para fabricar os brilhos que custam 10 reais o potinho de 6g – comprando mais tem desconto, avisa ela. As encomendas chegam por redes sociais como Facebook e Whatsapp. Em Porto Alegre, a entrega pode ser feita por motoboy ou ter a retirada combinada. Clientes de fora da capital gaúcha que encomendaram com antecedência para o Carnaval receberam as purpurinas pelo Correio, conta Marianne. Os potinhos de brilho também serão comercializados nesta sexta-feira na Feira Ecológica do Galpão do Plátano, na rua João Manoel, no Centro Histórico.
A ideia de criar um produto sustentável surgiu após Marianne participar de um evento que propõe refletir sobre a origem de roupas e acessórios, o Fashion Revolution Week. “A gente não se dá conta dos danos [que o glitter convencional pode causar]. A partir de quando começa tomar consciência, não tem como evitar pensar sobre o assunto”, disse Marianne a VEJA.