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Adolescentes acolhidos eram torturados por coordenador de abrigo

Segundo a Promotoria, rotina incluía enforcamentos, socos, choque, banho gelado, mordaças, injeção de calmante, consumo de álcool, cigarro e abuso sexual

Por Paula Sperb
Atualizado em 17 Maio 2018, 17h55 - Publicado em 17 Maio 2018, 16h22

O local que deveria ser seguro e acolhedor para adolescentes vítimas de maus-tratos era, na verdade, um local de violência e abuso. Nas dependências do abrigo, crianças e adolescentes sofriam uma rotina de tortura, trabalho forçado, injeções de calmante, estupro, consumo de álcool e cigarro. Após a denúncia do Ministério Público de Canoas, o abrigo para menores Instituto Brasileiro Nova Esperança, no município de Nova Santa Rita, a 20 km de Porto Alegre, foi fechado e as crianças foram transferidas para outras casas de acolhimento.

“Parece filme de terror. Todos eles já vinham de uma situação de estresse. Se espera que em um abrigo se dê um pouco de paz de espírito”, disse a VEJA o promotor João Paulo Fontoura de Medeiros, que fez o primeiro pedido de interdição do local.

No início do ano, o jovem Guilherme (nome fictício) foi levado ao hospital com os olhos inchados e ferimento nos ouvidos. O médico que o atendeu determinou que ficasse internado pela gravidade dos machucados na cabeça. Porém, o coordenador do abrigo que o acolhia fugiu com o garoto do hospital. A fuga culminou na ação da polícia, MP e conselho tutelar. O menino relatou que foi amarrado e espancado.

Pedro (nome fictício) tremia quando foi procurado por conselheiras tutelares. Com marcas vermelhas no pescoço, relatou ter sido enforcado. Além disso, ele era obrigado a fazer trabalho forçado análogo ao escravo em uma lavagem de carros ligada ao coordenador do abrigo.

A rotina de torturas também envolvia banhos gelados em um açude, choque, tiros no chão, urina no rosto, algemas e abusos sexuais. Carla (nome fictício) foi obrigada a assistir funcionários abusando sexualmente de outras garotas do abrigo. Os homens ofereciam bebidas alcoólicas nas chamadas “festas” onde ocorriam os abusos. Uma das garotas acolhidas estava separada da família porque sofreu abusos do pai quando tinha nove anos.

O coordenador do abrigo, Jerônimo Santos Castro, está preso preventivamente desde março e teve um segundo pedido de habeas corpus negado nesta semana pelo Tribunal de Justiça. O desembargador relator do pedido de liberdade que foi rejeitado, Victor Luiz Barcellos Lima, considerou o homem “perigoso” porque, mesmo depois de afastado do abrigo, ele ameaçava os jovens – alguns acabaram fugindo do local por medo.

Além do cargo ele também mantinha uma empresa de segurança privada e vigilância. No Facebook, chegou a escrever que “trabalhar com crianças é gratificante” e compartilha conteúdo a favor do porte de armas. Jerônimo era defendido pelo advogado Marcos Rafael Gomes Botelho. Procurado por VEJA, ele não quis comentar o caso. O novo advogado, Nedy de Vargas Marques, disse à reportagem que ainda não teve acesso aos autos do processo e, por isso, não irá se manifestar. Entretanto, disse que, em uma conversa prévia com Jerônimo, logo que foi contatado, o coordenador disse ser inocente.

A reportagem procurou a Secretaria de Assistência Social do município, que contratou a instituição privada para gerir o abrigo, mas ainda não obteve resposta.

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Segundo o promotor, a rotina de violência foi descoberta após uma denúncia feita pela Vigilância Sanitária de Nova Santa Rita. Havia lixo acumulado, falta de higiene, madeiras pontiagudas e pregos no pátio – que poderiam ferir os acolhidos – e fiação elétrica exposta, que poderia causar choques fatais, entre outros problemas. Por essa razão, a Promotoria solicitou interdição imediata e remoção das crianças.

Porém, novas denúncias, essas de maus-tratos, começaram a surgir. “O que veio depois foi grosseiramente pior, medieval, sem justificativa”, diz Medeiros.

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