Sexta-feira é o dia da semana em que, tradicionalmente, aparecem as notícias bombásticas. Isso está mudando: a semana mal chegou na metade e já há notícia suficiente para preencher um ano de noticiário na Dinamarca. A ver:
Com a popularidade em queda, Lula resolveu botar ordem na casa: reuniu os ministros e botou neles a culpa por seus próprios erros. A ministra da Saúde, já sob intensa pressão dos setores mais venais do Congresso, não aguentou e teve que sair da sala para chorar (mas ouviu mais quando voltou). O ministro Alexandre Padilha negou que Nísia Trindade vá ser demitida. É mau sinal: em política, a traição sempre vem precedida de declarações de apoio.
Dois dias depois, Lula demostrou que não aprendeu nada com as broncas que deu nos outros, e mandou “calorosas saudações” ao ditador fascista Vladimir Putin por sua reeleição fraudada. Depois acha que sua popularidade não avança por causa da taxa de juros (que caiu de novo). Lula, aliás, tem sorte de o grosso de seus eleitores não estar no mercado financeiro: lá, a aprovação a seu governo está em queda livre, e chegou a 6%.
Incapaz de botar ordem na casa de forma metafórica, Lula mostrou-se incapaz de botar ordem na casa também de forma literal. Mais de um ano depois de reclamar que não tinha onde dormir porque Bolsonaro e Michelle haviam roubado os móveis do Alvorada, os móveis apareceram. Estavam lá no Palácio, mesmo. Bom, pelo menos serviu para o casal presidencial dar um banho de loja no Palácio: diz que só a cama nova custou 42 mil reais.
Jair Bolsonaro tem problemas mais graves do que os de Lula. O ex-presidente (que tinha medo de virar jacaré, mas não tinha medo de virar presidiário) foi indiciado por falsificar o certificado da vacina. A investigação do assassinato de Marielle Franco, que, por algum motivo, Bolsonaro fez o possível para atrapalhar, andou. A delação do assassino foi homologada, e parece que inclui um deputado federal ligado à milícia, que Bolsonaro sempre elogiou. Há um bolão de apostas para saber pelo que Bolsonaro será preso primeiro: vacina, roubo de joias, tentativa de golpe ou alguma outra coisa que ainda não se sabe.
Jair Renan, vejam só, ultrapassou o pai na corrida em direção à cadeia: foi denunciado por falsificar um documento para obter um empréstimo bancário irregular. No qual deu calote. E usou parte do dinheiro para pagar seu próprio cartão de crédito — a polícia acha que ele usou a empresa para roubar do banco, depois roubou da empresa (será que ladrão que rouba de si mesmo também tem cem anos de perdão?). A gente se pergunta que tipo de banco dá empréstimo a pessoas como Renan. Afinal, quem sai aos seus não regenera.
Invejosos dos micos pagos pelos Bolsonaro e pelos Lula da Silva, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado atravessaram o oceano para pagar um mico planetário na Terra Santa, onde ofereceram calorosas desculpas ao fascista, projeto de ditador, Benjamin Netanyahu. Felizmente, ninguém fora do Brasil sabe quem são Tarcísio e Caiado e o mico ficou restrito à Terra Brasilis.
Cadeia é o espírito do tempo: a Câmara aprovou o fim da “saidinha” de presos em feriados. Está em linha com o Senado, que recentemente aprovou a criminalização de qualquer entorpecente em qualquer quantidade — e ainda teve a cara de pau de querer botar essa restrição de liberdade no capítulo das liberdades pétreas da Constituição. O Congresso continua buscando soluções simples e erradas (e contraproducentes) para problemas complexos.
A política não é o único lugar onde crime, vergonha e desatino se misturam. No futebol também tem muito. O STF endossou o processo italiano e condenou Robinho a 9 anos de cadeia (será que era melhor ter ficado na Itália?). Já a Justiça espanhola deu a Daniel Alves um respiro: em troca de 1 milhão de euros de fiança, o jogador-estuprador vai poder aguardar em liberdade o recurso contra sua condenação. Ninguém espera que a pena melhore. E o destino de Robinho no STF mostrou que é melhor Daniel ficar pela Espanha, mesmo.
Mas preparem-se, porque amanhã é sexta-feira.
(Por Ricardo Rangel em 21/03/2024)