Uma briga com Valdemar terá final infeliz para Bolsonaro
Briga entre fanático e pragmático é um filme que a gente viu em 2019
Bolsonaro andou se estranhando com Valdemar Costa Neto, mandachuva de seu partido, o PL.
É que Valdemar andou fazendo uns elogios a Lula, o que é pecado. E foram maiores do que os feitos a Bolsonaro, o que é pecado mortal.
Sem mencionar o nome de Valdemar, Bolsonaro, disse que “se continuar assim, vai implodir o partido” — uma clara ameaça de ele mesmo implodir o partido, isto é, sair do PL levando consigo seus acólitos.
Um dos acólitos, o deputado Bibo Nunes, fez coro ao faniquito do chefe. Disse que “Lula é uma mosca e Bolsonaro é uma águia. E águia não caça mosca”. Não sei, não. Daqui da planície, o que se vê é a águia permanentemente à caça de moscas (sejam elas moluscos ou não).
Não é a primeira vez que Bolsonaro se estranha com Valdemar. Não será a última. Bolsonaro é um fanático: tem dificuldade de compreender quais são seus interesses, e não é capaz de sacrificar coisa alguma (só os outros, naturalmente). Valdemar, por outro lado, é um pragmático: sabe perfeitamente quais são seus interesses, e, por eles, é capaz de sacrificar qualquer coisa.
Nós já vimos esse filme, por sinal. Em 2018, Luciano Bivar, um pragmático, traiu promessas feitas ao Livres (e a seu próprio filho) e abriu seu (nanico) partido, o PSL, para que Bolsonaro fosse candidato. O fanático foi eleito presidente; o pragmático elegeu a maior bancada da Câmara e garantiu a maior verba partidária de que se tinha notícia.
No ano seguinte, Bolsonaro quis assumir o controle das verbas eleitorais de 2020 e Bivar não permitiu. O fanático saiu do partido batendo a porta e anunciando que ia criar um novo partido, o Aliança pelo Brasil.
O pragmático livrou-se do encrenqueiro e ficou com 100% da verba. O partido ficou menor, mas continuou importante, e fundiu-se com o DEM, criando o União Brasil. Bivar assumiu a presidência do novo partido e ficou com a terceira maior fatia do fundo partidário.
O fanático levou consigo metade da bancada do PSL, mas nem um tostão. Não conseguiu montar o tal novo partido. Tentou impugnar a urna pela qual se elegeu várias vezes, mas não conseguiu. Entrou no PL para disputar a reeleição de 2022, tentou fraudar o pleito, mas perdeu assim mesmo. Tentou dar um golpe de Estado, mas perdeu.
No momento, está inelegível e enfrenta graves dificuldades na Justiça. Sobrevive com um salário a que não faz jus e que deve unicamente à boa vontade do pragmático Valdemar.
Recomenda-se ao fanático que não tente a sorte contra um pragmático novamente.
(Registre-se que conselhos não funcionam bem com fanáticos. Fanáticos são o escorpião da anedota. Pragmáticos, está claro, não são o sapo.)
(Por Ricardo Rangel em 16/01/2024)