“Alguém ensinou um modelo de análise à imprensa em que a possibilidade de golpe está sempre colocada”, ironizou o general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do GSI no governo Temer.
Está certo o general. Alguém ensinou.
Pode ter sido o capitão Jair Messias Bolsonaro que dia sim, dia não, ameaça usar o Exército — que chama de “meu” — para dar golpe.
Ou o general Fernando Azevedo, ministro da Defesa que defendeu o golpe de 1964 mais de uma vez e sobrevoou com o presidente Bolsonaro uma manifestação golpista. Ou os muitos generais que frequentam ou frequentaram manifestações golpistas em apoio a Bolsonaro.
Ou os generais Heleno, Ramos e Braga Netto, que apoiam o comportamento golpista de Bolsonaro e, segundo denúncia nunca desmentida da revista Piauí, participaram de uma reunião em que se discutiu o fechamento do STF.
Ou o general Mourão, que ameaçou golpe contra Dilma duas vezes, e depois aventou o autogolpe de Bolsonaro. Ou o general Villas-Boas, que pressionou o Supremo Tribunal Federal (ou os generais do Alto Comando que o apoiaram).
Ou qualquer um dos presidentes do Clube Militar, que, há anos, dão declarações golpistas (a última vez foi dias atrás).
Ou os generais que deram o golpe em Jango em 1964 — e mais uma dúzia de autogolpes durante a ditadura militar.
Ou os generais que apoiaram o autogolpe de Getúlio Vargas em 1937, e sustentaram o ditador por oito anos. Ou os que deram o golpe em Washington Luís em 1930.
Ou os militares que se envolveram em conspirações e movimentos golpistas em 1922, 1924, 1954, 1955 e 1961.
Ou Floriano, que deu o autogolpe e se fez ditador. Ou Deodoro, que deu o golpe em Dom Pedro II.
Mas também pode ter sido qualquer um dos muitos generais que criticam a imprensa, como o próprio Etchegoyen, mas nunca, jamais, repudiam as ameaças golpistas de Jair Bolsonaro.
Mas que alguém ensinou à imprensa que golpe “é sempre uma possibilidade”, ah, isso alguém ensinou.