Simone venceu. O que Doria deve fazer?
“Política não se faz com ódio, pois não é função hepática”, ensinou Ulysses Guimarães
Simone Tebet venceu. Não surpreende, foi a única que se comportou como profissional. Jogou quase todo o tempo parada, avançando somente se absolutamente necessário, como quando o machismo reinante na política brasileira tentou relegá-la a vice na chapa de Eduardo Leite. Suavemente, informou: “não vou ser candidata à vice-presidência da República”.
João Doria está indignado, sentindo-se vítima de um ultraje. Errado, não está. Afinal, venceu as prévias, e está sendo cristianizado em praça pública. Por outro lado, as coisas não acontecem por acaso. Doria nunca uniu seu partido, pisou nos calos de metade dos caciques tucanos e fez um jogo pesado nas prévias. Nada disso contaria, no entanto, se o ex-governador de São Paulo estivesse bem nas pesquisas. Mas ele não está.
Se Doria seguir na linha em que está indo, a do confronto, tentando seguir candidato contra tudo e contra todos, o fracasso é certo. O máximo que conseguirá é manter a esperança até julho, quando a convenção da federação PSDB-Cidadania liquidará suas últimas esperanças (se, por um milagre, a candidatura for confirmada, as urnas a enterrarão).
Doria passará à história como o homem que inviabilizou a terceira via e botou Lula e Bolsonaro no segundo turno (se isso é fato ou não, ninguém nunca saberá, mas essa é a versão que vai ficar). Depois disso, o ex-governador de São Paulo será abandonado em um limbo tão grande que poderá representar o fim de sua curta carreira política.
Outra hipótese é engolir a raiva e o orgulho político, adiar o sonho de ser presidente e inverter o jogo. Aderir a Simone de corpo e alma em troca de duas contrapartidas: um ministério importante em um eventual governo Tebet e o fim da reeleição.
Se Doria esfriar a cabeça e parar de raciocinar com o fígado, será bom para todo mundo. Especialmente para ele mesmo.
“Política não se faz com ódio, pois não é função hepática”, ensinou Ulysses Guimarães.