O principal ponto de discórdia entre Executivo e Legislativo — que valeu uma queda de braço que chegou ao Supremo e enfureceu o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco — foi equacionado. A desoneração da folha de pagamentos será reduzida de forma gradual até chegar ao fim em 2028.
Chegou-se a um acordo também sobre os 5,6 bilhões de reais em emendas de comissão — especialmente valiosas em ano eleitoral —, que haviam sido vetadas por Lula. Com a anuência do governo, o veto será derrubado parcialmente, e os parlamentares ficarão com 3,6 bilhões.
O governo ganhou tempo com o adiamento da apreciação de outros vetos importantes, como o das “saidinhas”.
Não se pode considerar que o que houve na quinta-feira foi uma vitória. Nos temas em que chegou a um acordo, o governo entregou mais do que gostaria. Em outros, como a tributação das apostas esportivas, o registro de pesticidas, a lei das licitações etc., o governo perdeu. E, nos que foram adiados, a derrota continua anunciada. No geral, foi no máximo um empate.
“Às vezes, o empate dá vitória’, diz senador Randolfe Rodrigues, líder do governo. Só às vezes, senador. Quase sempre, empate é só empate, mesmo.
O que a quinta-feira deixou claro é que, negociando, o governo pode empatar. Brigando, perderá de goleada. Para ganhar, Lula precisa:
- ter um plano de governo,
- dar o exemplo a ser seguido (o Congresso não cortará gastos se o governo não o fizer primeiro),
- parar de xingar quem não vota nele,
- melhorar muito a qualidade e o timing de sua articulação política.
E precisa disso logo.
(Por Ricardo Rangel em 10/05/2024)