“Quem mexe com a Venezuela se dá mal”, ameaçou Nicolás Maduro. Foi pouco depois de classificar Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais de Lula, como “mensageiro do imperialismo norte-americano”.
A ameaça é um tanto ridícula, porque a chance de um conflito real entre Venezuela e Brasil é impensável, como é ridículo chamar um petista de agente americano (mas é divertido, já que o PT vive chamando todo mundo de lacaio dos americanos).
Nicolás Maduro fraudou a eleição em seu país, escancarou a ditadura, e agora precisa desesperadamente de apoio internacional. Mas o Brasil vetou a entrada da Venezuela no Brics, jogando água no chope do ditador venezuelano.
De lá para cá, Maduro já chamou o veto brasileiro de “gesto hostil”, “agressão inexplicável e imoral” e “punhalada nas costas”. Chegou a comparar o governo de Lula ao de Bolsonaro.
Não que Maduro não esteja certo em sua ira santa.
A Venezuela é uma ditadura desde os tempos de Hugo Chávez e frauda uma eleição sim, outra também, mas isso nunca impediu Lula de apoiar o bolivarianismo venezuelano. Lula já disse que a Venezuela tem “democracia demais” e o PT chegou a comemorar a fraude que reconduziu Maduro ao poder. Nada mais natural que Maduro esperasse continuar a contar com o apoio brasileiro.
Incoerente é Lula, que, depois de mais de uma década tratando o ditador venezuelano como amigo de fé, irmão, camarada, de repente inventou de fazer essa falseta.
A crise atual deve ser navegada com extremo cuidado — não é bom para ninguém que Venezuela e Brasil cortem relações —, mas ela é uma excelente oportunidade para que o presidente brasileiro se livre, de uma vez e para sempre, de sua amizade com o ditador venezuelano, um peso morto que só nos constrange.
Roga-se que Lula não perca essa oportunidade.
(Por Ricardo Rangel em 31/10/2024)