Lula está operando para botar Guido Mantega na Vale. A princípio, como conselheiro. Depois, como presidente.
A Vale é uma empresa privada, o governo não é acionista, e não tem o poder de nomear quem quer que seja. Por herança da privatização, no entanto, tem o poder de vetar certas decisões, de atrapalhar a empresa e de chantagear o conselho para obrigá-lo a fazer o que quer.
Também pode influir na empresa por meio dos fundos de pensão — que administram dinheiro dos empregados e aposentados de estatais, mas que o governo opera como se lhe pertencessem —, que têm participação na Vale.
Ou seja, o governo pode barrar a recondução do presidente da Petrobras, que deve ocorrer no fim do mês. Mas pode “aceitar” a recondução dentro de um acordo que nomeie Mantega conselheiro.
Nomeado ministro da Fazenda por Lula e mantido por Dilma, Mantega foi o arquiteto e o síndico da devastação fiscal que nos jogou em uma profunda recessão, da qual até hoje não nos recuperamos por completo. O “Pós-Itália” das planilhas da Odebrecht chegou a ser preso brevemente durante a Lava-Jato, foi condenado pelo TCU pelas pedaladas de Dilma e ficou cinco anos proibido de trabalhar como funcionário público.
Por que diabos Lula haveria de querer alguém assim na Vale? Por uma combinação de motivos.
Por gratidão: é uma maneira de recompensar — com dinheiro público — o amigo fiel, que sofreu, mas não traiu (como o fez Palocci).
Porque o aparelhamento é o estilão petista desde sempre: ser companheiro é mais importante do que ser competente, honesto ou trabalhador (é uma mentalidade de trincheira).
Porque Lula gosta de mandar, e exige fidelidade canina de seus auxiliares. Mantega na Vale é a garantia de que a empresa vai fazer exatamente o que Lula quer.
Porque, apesar da catástrofe da (falta de) gestão Dilma, Lula continua acreditando no desenvolvimentismo econômico e a Vale é a segunda maior empresa do país. (Melhor que a Vale, só a Petrobras, onde já está tudo dominado).
Mantega é apenas o mais recente e mais chocante exemplo de aparelhamento petista, por sinal: todas as outras estatais estão lotadas de gente que tem por única qualificação para o cargo serem prepostos de Lula.
O Brasil sempre praticou o desenvolvimentismo econômico, e o resultado invariavelmente foi a concentração de renda e a ruína econômica. Mas Lula acredita que desta vez vai dar certo.
E é nesse caminho que estamos seguindo.
(Por Ricardo Rangel em 17/01/2024)