Ao tomar as medidas contra a inundação no Rio Grande do Sul, Lula acertou (em cheio!) no atacado. E juntou o útil ao agradável: o que faz de bom para o Sul é bom também para sua popularidade (não há nada errado nisso, diga-se).
Mas Lula errou no varejo.
Fez um comício para faturar a crise politicamente. “Eu tenho noção do que essas pessoas estão passando”, disse — não, não tem: o sofrimento dos gaúchos é inconcebível para qualquer um que não esteja vivendo a tragédia.
Como de hábito, Lula passou um longo tempo falando bem de si mesmo e espinafrando os adversários. Constrangeu o presidente do STF e políticos e autoridades ligados a outros partidos, que estavam ali para um evento de solidariedade e união cívica e se viram no papel de coadjuvantes do petista.
O interesse eleitoreiro na tragédia fica ainda mais claro com a nomeação de um político adversário do governador Eduardo Leite para a nova Secretaria de Apoio à Reconstrução do Rio Grande. A nomeação põe em risco a necessária aliança entre União e estado para o combate à tragédia e tende a ser ruim para a popularidade do presidente. Lula juntou o inútil ao desagradável.
Como não poderia deixar de ser, o comício e a nomeação foram mal recebidos pela opinião pública e forneceram farto material para o bolsonarismo.
Por fim, ao tirar Paulo Pimenta, Lula deixa sem titular a Secretaria de Comunicação — justamente a área da qual mais precisa para melhorar sua popularidade.
Se as providências contra o desastre foram um tiro perfeito no alvo, o comício, a nomeação de Pimenta e comunicação acéfala foram três tiros no pé em um só dia.
Alguém precisa dizer a Lula que o maior inimigo de sua popularidade é seu próprio voluntarismo.
(Por Ricardo Rangel em 20/05/2024)