Gaza: a tese do genocídio é pior do que parece
Ao usar a guerra como palanque, Lula prejudica interesses palestinos, judaicos e brasileiros
O Brasil deu apoio formal à ação no Tribunal Penal Internacional em que a África do Sul acusa Israel de genocídio na Faixa de Gaza.
Ninguém efetivamente sabe o que Benjamin Netanyahu quer em Gaza. Talvez ele entenda o que faz como sendo a simples defesa de seu país, como muita gente acredita. Neste caso, o massacre em Gaza seria “apenas” um crime de guerra.
Mas não é impossível que queira se livrar, para sempre, de todos os palestinos de Gaza — dentro de sua base de apoio com certeza há gente querendo exatamente isso. Neste caso, seria mesmo genocídio, como não se cansa de repetir Lula.
Seja como for, puxar a carta do “genocídio” é um erro grave. Ao fazerem isso, África do Sul e Brasil tiram o foco do concreto (o massacre em si) e o levam para o simbólico (judeus cometendo genocídio).
Os judeus foram vítimas do maior genocídio da história — o crime só existe por causa do Holocausto — e aplicar a palavra para caracterizar atos dos próprios judeus é de enorme empáfia, (os judeus diriam “chutzpah”), o ultraje definitivo. O resultado prático é unir os judeus do mundo inteiro em protesto e em defesa de seu país e de seu governo. Nesses termos, é impossível conseguir o apoio dos judeus moderados, sem o qual será impossível deter Netanyahu.
A ação que o Brasil decidiu apoiar em nada contribui para a paz ou para o bem-estar dos inocentes que estão sendo massacrados em Gaza. Ao contrário, contribui para a guerra eterna. Que é exatamente o que querem a tanto a extrema-direita israelense como os extremistas árabes.
O apoio brasileiro tampouco serve a nossos próprios interesses nacionais: ele hostiliza Israel, nos afasta de parceiros importantes que rejeitam enfaticamente a tese de genocídio (como EUA e Alemanha), nos aproxima de ditaduras, muitas das quais financiam o terrorismo internacional. E alimenta a polarização interna: agora os brasileiros estão brigando entre si por causa de um conflito que nem sequer compreendem.
Vale notar que os que hoje gritam “genocídio” são com frequência os monopolistas da virtude, a parte da esquerda que acha possível ser antissionista sem ser antissemita. Não é. Se, como diz o bordão da moda, “do rio ao mar, a Palestina (país que nunca sequer existiu) será livre”, para onde vão os milhões de judeus que moram entre o Jordão e o Mediterrâneo? A única proposta que se conhece foi feita pelos árabes na guerra de 1948: “vamos afogá-los no mar”.
O Hamas, os Houthis e outros grupos terroristas continuam querendo afogar os judeus no mar. É genocídio, claro, mas a esquerda “virtuosa” não reclama. A opinião sobre o crime varia dependendo de quem é o criminoso.
(Por Ricardo Rangel em 15/01/2024)