“Errar é humano, insistir no erro é diabólico”, teria dito Santo Agostinho. A maior parte das pessoas, menos metafísica, costuma dizer que insistir é tão-somente burrice.
Seja o que for, Paulo Guedes insiste. Insiste em recriar a CPMF, insiste em dizer que não é CPMF (“o imposto que não ousa dizer seu nome”, comentaria Oscar Wilde), insiste em não enxergar o problema que ela representa — aliás, já que está tão comprometido com a CPMF, o governo poderia nos fazer o favor de explicar por que Bolsonaro demitiu, de maneira indignada e espetaculosa, o idealizador da volta do imposto, Marcos Cintra.
O Brasil não quer a CPMF. Não quer imposto novo em geral, porque a carga tributária já é alta demais e porque o governo é perdulário, entrega serviços abaixo da crítica, e toda vez que promete um aumento de imposto agora em troca de uma redução depois, o aumento vem e a redução fica para as calendas gregas.
E o Brasil não quer, em particular, imposto sobre transação, porque transação não deve ser fato gerador, porque equivale a tributação múltipla, porque pune a produção e o consumo, porque é regressivo em um país em que a transferência de renda de pobre para rico já é brutal.
Já o que tem que fazer, o governo não faz. Não contribui para os projetos de reforma tributária que já há no Congresso, não elabora proposta para reduzir a carga tributária sobre o consumo, não encaminha a reforma administrativa — que está dormindo na gaveta de Jair Bolsonaro há quase nove meses e não nasce.
Guedes fez uma analogia meio troncha com o filme de western “Três homens em conflito — o bom, o mau e o feio”, de Sergio Leone, em que a CPMF seria o imposto “feio”. Teria feito analogia melhor se tivesse escolhido “Os imperdoáveis”, de Clint Eastwood, ou “Meu ódio será tua herança”, de Sam Peckinpah.