Bolsonaro muda a narrativa. E se enrola ainda mais
O ex-presidente quer fazer crer que "não tem problema" conversar sobre golpe de Estado

“Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, que vocês estão cansados de ouvir, o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, [estado de] sítio, [estado de] defesa, [artigo] 142, intervenção… (…)
“E, para você dar um golpe, ao arrepio das leis, você tem que buscar como é que está a imprensa, quem vai ser nosso porta-voz, empresarial, núcleos religiosos, Parlamento, fora do Brasil. O after day, como é que fica? Então foi descartado logo de cara.”
Antes, Bolsonaro negava peremptoriamente ter cogitado dar golpe. Agora, afirma que cogitou, sim, mas logo desistiu. Mas que isso não tem nada demais:
“Não tem problema nenhum conversar. Conversa primeiro com o ministro da Defesa. Depois, na segunda reunião que apareceu os caras lá. Existe algo fundamentado, concretamente, para gente buscar uma alternativa? Chegou à conclusão que, mesmo que tivesse, não vai prosseguir.”
É preciso ser muito ingênuo ou muito bolsonarista para comprar a ideia de que “não tem problema nenhum conversar” sobre golpe. Conversar sobre como impedir a posse de um presidente legitimamente eleito configura uma conspiração para dar um golpe de Estado — e é ainda mais grave se você chama para a conversa os comandantes das Forças Armadas.
Além disso, se era só um papo sem compromisso, e a hipótese de intervenção foi descartada “de cara”, por que foram confeccionadas pelo menos três minutas diferentes de golpe? Por que o comandante da Aeronáutica se recusou a receber uma delas? Por que o comandante do Exército alertou o presidente de que se insistisse no assunto, seria preso?
Bolsonaro tem um histórico de meter os pés pelas mãos ao se expressar, mas desta vez — desesperado com a perspectiva da prisão (hipótese que considera “o fim da minha vida”) — se superou.
E, com essa conduta, deve estar deixando desesperados também seus advogados.
(Por Ricardo Rangel em 31/03/2025)