A relação entre Bolsonaro e o Congresso depois da decisão do STF
Que ninguém se iluda: Bolsonaro vai encontrar outra maneira de comprar votos no Congresso. Mas será mais difícil e menos eficaz.

A decisão do STF mantendo a liminar da ministra Rosa Weber, que suspende as emendas do orçamento secreto, dá um cavalo de pau no modelo de relacionamento entre o governo e o Congresso.
Fraco, sem representatividade e politicamente inábil, o governo Bolsonaro se valia de um único método para angariar apoio no Congresso: comprar, por meio do orçamento secreto, os votos necessários para aprovar leis e emendas.
Antes apenas inconstitucional, ilegal e imoral, o método passou a ser também proibido.
Ninguém deve acreditar, no entanto, que a partir de agora as relações entre Bolsonaro e o Legislativo se tornarão éticas e republicanas.
É certo que o presidente que precisa comprar votos e os parlamentares dispostos a vendê-los encontrarão algum outro método para fazer seu comércio.
Porém:
1. Estabelecida a jurisprudência de que despesas não transparentes são inaceitáveis, qualquer método assim deverá ser rapidamente vedado no Supremo.
2. O novo método será mais transparente (e, portanto menos eficaz), de modo que Bolsonaro deverá ter maior dificuldade de obter apoio. Seu governo se tornará mais frágil.
3. O novo método não necessariamente passará por Arthur Lira (emendas de comissão, método que está sendo aventado, por exemplo, não passam). O presidente da Câmara tende a perder poder.
4. Vai demorar algum tempo até que o novo método esteja em funcionamento — e o orçamento de 2022 já deveria estar sendo votado. Quanto mais atrasar a aprovação do orçamento, mais complicada ficará a vida do governo, e do Brasil, no ano que vem.