A negociação sobre a entrada do Centrão no governo demorou meses. Quando aconteceu, foi uma microrreforma: apenas dois deputados do bloco viraram ministros, só um — no caso, uma, Ana Moser — saiu. Para não desagradar demais o PSB, Lula criou um puxadinho para Marcio França.
Ninguém gostou.
A demissão de Ana, feita sem qualquer cuidado, além de deixar a ex-ministra magoada, foi uma desfeita aos profissionais do esporte e a mulheres em geral.
Marcio França expressou seu incômodo com o rebaixamento publicando foto de Lula com o bolsonarista Tarcísio de Freitas. Deu “parabéns” ao presidente por ter recebido em seu governo o Republicanos, partido do governador de São Paulo.
O Republicanos e o PP, cujos integrantes foram nomeados ministros, acharam pouco. O Republicanos, mandou avisar que a nomeação de seu deputado Silvio Costa para o Ministério dos Portos e Aeroportos não garante apoio automático. Ainda que a nota do Republicanos vise também a aplacar a irritação de seu membro mais importante, Tarcísio de Freitas, a verdade é que o Republicanos quer mais. E o PP também. A novela da compra da governabilidade está longe do fim.
O presidente está colhendo o que plantou. Foi Lula quem, ao criar o mensalão e o petrolão, elevou o apetite do Centrão a patamares pantagruélicos — Bolsonaro tornou-o insaciável ao entregar a chave do cofre ao bloco.
Lula poderia ter garantido a vitória e apoio parlamentar se tivesse montado uma verdadeira frente ampla democrática com antecedência. Esnobou o centrão, o centro legítimo democrático e os eleitores que votaram em Bolsonaro e estavam insatisfeitos, repetindo a atitude hegemônica que caracteriza o PT desde sua criação, há mais de 40 anos.
Deu no que deu: quase perdeu a eleição e chegou ao poder sem apoio no Congresso mais poderoso e de direita que já tivemos.
Há quem compare a eleição de Lula à restauração Bourbon, que botou a a família real de volta no trono da França após a queda de Napoleão. A melhor frase dita sobre os Bourbon é do primeiro-ministro Talleyrand: “não aprenderam nada, não esqueceram nada”.
Luís Inácio Bourbon da Silva, como Luís XVIII e Carlos X, parece não ter aprendido, nem esquecido, coisa alguma.