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O massacre de Halabja: uma Pompeia destruída pela mão humana

Ataque com arma química matou milhares em vilarejo curdo em 1988, na guerra Irã-Iraque. O conflito acabou naquele ano, mas o uso desse tipo de arsenal, não

Por Da redação
Atualizado em 30 jul 2020, 20h57 - Publicado em 8 abr 2017, 01h56
VEJA de 6 de abril de 1988
VEJA de 6 de abril de 1988. Clique para ler a reportagem (Reprodução/VEJA)

Nos estertores da guerra entre o Irã e Iraque (1980-88), a cidade de Halabja foi palco de uma das maiores atrocidades da história recente. Estima-se que até 5 000 pessoas tenham morrido em um só dia, 16 de março de 1988, no ataque químico ordenada por Ali Hassan al-Majid, o infame ex-ministro da Defesa do Iraque – e primo de Saddam Hussein – que ficaria conhecido como Ali Químico.

“Eram 2 horas da tarde do último dia 17, uma quinta feira, quando os primeiros soldados da Guarda Revolucionária do Irã começaram a entrar na cidade iraquiana de Halabja, perto da fronteira entre os dois países’, relatou reportagem de VEJA de 6 de abril de 1988. “Com a ajuda dos curdos, os iranianos haviam tomado a cidade um dia antes, obrigando o Exército iraquiano a recuar. A retaliação não demorou. E foi cruel. Aviões da Força Aérea do Iraque despejaram sobre a cidade várias bombas que, ao explodir, espalhavam pelo ar uma densa nuvem amarela esbranquiçada.”

Em poucos minutos, as ruas de Halabja se encheram de cadáveres. “As cenas lembravam alguma cidade perdida do passado atingida por uma súbita catástrofe, uma Pompeia destruída pela mão humana. Um turbante escondia o rosto do homem que ainda tentou correr com um bebê nos braços e acabou tombando morto num último abraço”, descrevia VEJA. “Talvez pressentindo a iminência da morte, duas mulheres ainda tiveram tempo de se agarrar num jardim florido, enquanto uma família inteira era apanhada de surpresa pelo gás, sentada à mesa de um almoço que não chegou a ser servido. E mais uma tragédia se repetiu entre os curdos, um povo ora perseguido pelos iranianos, ora massacrado pelos iraquianos e pego bem no meio de uma guerra que já dura sete anos e meio e soma mais de um 1 milhão de vítimas.”

A guerra Irã-Iraque chegaria ao fim ainda em 1988, Ali Químico idem (foi enforcado em 2010), mas o uso desse tipo de arsenal, não, como se viu tragicamente esta semana na Síria, onde mais de 80 pessoas, muitas crianças, foram mortas em ataque à província de Idlib. O novo massacre chocou o mundo e precipitou a primeira ofensiva militar de Donald Trump. Responsabilizando o ditador Bashar Assad pelas mortes, o presidente americano determinou o bombardeio de uma base aérea do regime sírio nos arredores de Homs.

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VEJA de 28 de agosto de 2013
VEJA de 28 de agosto de 2013. Clique para ler a reportagem. (Reprodução/VEJA)

Ao retaliar Damasco, Trump busca distanciar-se da imagem vacilante que Barack Obama projetou ao ver desrespeitada certa “linha vermelha” que traçara em 2012. Na ocasião, o então presidente americano dissera que os EUA não tolerariam que as forças de Assad recorressem a arsenal químico ou biológico no confronto com opositores. “Isso mudará meu cálculo, isso mudará a equação”, ameaçou. A conta pode ter mudado, mas não a ponto de desencadear uma resposta militar. Em agosto de 2013, em ataque atribuído às forças de Assad, mais de mil pessoas morreram expostas ao gás sarin. Reportagem de VEJA explicava que “a Síria é um país com um dos maiores arsenais de substâncias venenosas do mundo”, com dezenas de depósitos abarrotados de armas químicas. E vaticinava: “O inferno só começou”.

O que se seguiu ao ataque de 2013 foi, não a ofensiva militar com que Obama acenara um ano antes, mas uma frágil resolução do Conselho de Segurança da ONU determinando que a Síria entregasse seu estoque de armas químicas. “No entanto, o texto não prevê punições objetivas, com sanções ou o uso da força, ao regime do ditador Bashar Assad caso ele não cumpra o combinado”, ressalvava reportagem de VEJA de outubro daquele ano. “Com isso, Assad poderá apenas fingir que coopera com o plano.”

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