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Vale a pena ler de novo o que saiu nas páginas de VEJA em quase cinco décadas de história
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Busca por beleza a qualquer custo fez vítimas também entre celebridades

Modelos Claudia Liz, em 1996, ficou em coma após lipoaspiração e Andressa Urach, em 2014, quase perdeu a perna após infecção

Por Da redação
Atualizado em 30 jul 2020, 20h23 - Publicado em 19 jul 2018, 15h27

Nesta semana, o país conheceu e se horrorizou com as histórias do médico Denis Cesar Barros Furtado, investigado pela morte da bancária Lilian Calixto após ela se submeter a um procedimento estético nos glúteos em seu apartamento, na Barra da Tijuca. Escondido por trás do divertido nome de “Doutor Bumbum“, o profissional é acusado de ter cometido atrocidades que agora começam a ser divulgadas por outras clientes e são investigadas pela Justiça do Rio de Janeiro e pelo Conselho Regional de Medicina.

Médicos como Denis Furtado são alimentados por um público gigantesco de pessoas em busca da beleza. Homens e mulheres que muitas vezes acreditam em milagres para readquirir ou ganhar a forma desejada e se submetem a técnicas arriscadas mesmo que não faltem razões para perceberem que a conversa toda não parece lá muito confiável – o fato de o “Doutor Bumbum” atender em casa, e não em uma clínica, poderia ter servido como alerta.

Em 16 de outubro de 1996, a edição de VEJA detalhou um dos maiores dramas relacionados à busca da beleza ocorreu com a belíssima modelo Claudia Liz, então com 27 anos e que, apesar de magra, submeteu-se a uma lipoaspiração, malsucedida. “Como havia engordado 16 quilos durante a gravidez de seu filho Lucca, hoje com 3 anos, Claudia internou-se num hospital para fazer um ajuste fino depois de submeter-se a uma dieta rigorosa. Queria tirar cerca de 2 litros de gordura da barriga e do culote e colocar uma prótese de silicone para levantar os seios. Na sua profissão, corpo esbelto com tudo no lugar é a primeira exigência. Dois ou 3 quilos acima do peso ideal já comprometem o desempenho na passarela.”

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Reportagem de 1996 mostrou o drama da modelo Claudia Liz, submetida a uma lipo malsucedida (Reprodução/VEJA)

Claudia Liz havia participado de uma novela do SBT , Razão de Viver, e se descuidara do peso com a nova rotina. Decidiu apelar para os bisturis e começou o maior drama de sua vida. Leia parte do texto de 1996:

“Há duas semanas, foram encerradas as gravações da novela. A vida de        Claudia começou a voltar ao normal e ela achou que havia chegado a hora de recuperar a forma física antiga. Meta principal: livrar-se de 2 quilos, eliminando 2 centímetros dos quadris. Embora suas outras medidas continuassem espetaculares (1,80 metro de altura e 1,15 metro só de pernas ” mais longas do que as de Cláudia Raia), Liz queria resultado certo e rápido. Internou-se na Santé pela terceira vez. A encomenda da semana passada era uma lipoescultura de contorno. Trata-se de uma lipoaspiração que começa nas axilas e vai percorrendo as laterais do corpo até as proximidades do joelho. A modelo chegou à clínica pouco depois das 9 da manhã da terça-feira passada.

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O primeiro alerta de que a cirurgia não ia bem veio de um aparelho chamado oxímetro, que começou a apitar assim que Cláudia Liz recebeu uma dose de anestésico, injetada na sua espinha pelo médico Francisco Minan Neto, e outra de sedativo. Houve uma reação orgânica imediata às substâncias. O nível de oxigenação de Claudia Liz caiu de 98% para 66%. Sua pressão também despencou. Os brônquios da modelo se contraíram e o cérebro passou a receber menos oxigênio do que o necessário para funcionar adequadamente. Aconteceu o que a medicina chama de hipoxia. A partir daí, a sala número 2 do centro cirúrgico da clínica Santé não ficou mais quieta naquele dia. Silêncio só o da modelo, que entrou falante na Santé e saiu em coma no início da noite, rumo ao hospital Albert Einstein, um dos mais conceituados de São Paulo, onde ela permanecia na madrugada de sábado, ainda em estado grave, mas já esboçando alguma recuperação.”

A reportagem contava que havia o risco de sequelas “A falta de oxigênio no cérebro logo depois da aplicação da anestesia, em decorrência do choque, provocou danos no cérebro de Claudia Liz, conforme revelaram os exames. Descobriu-se que na zona cerebral responsável por funções como a visão houve morte de neurônios. Isso indica que Cláudia, superando o risco inicial da morte, poderá ter seqüelas cuja extensão é ainda impossível prever. Nesses casos, o pesadelo pior é a regressão da pessoa a um estado vegetativo, hipótese que aparentemente não combinava com a evolução do quadro médico de Claudia na madrugada de sábado. Outra hipótese, mais branda, seria a recuperação do entendimento e dos movimentos mas com algum prejuízo, especialmente no campo da visão. Os médicos não arriscavam nenhuma previsão.”

Anos depois, Claudia Liz lançou um livro contando que sofreu de depressão após o episódio e tomou antidepressivos por três anos.

Técnicas arriscadas

Claudia Liz foi vítima de uma fatalidade em uma lipo, procedimento comum e consagrado. Outras técnicas, no entanto, se mostram muito mais arriscadas, e quase todas têm fila de espera.

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A avidez por tratamentos estéticos sem critérios fez outra vítima entre as celebridades há quatro anos. Na edição de 10 de dezembro de 2014, VEJA contou a história de outra modelo, a gaúcha Andressa Urach que ficou famosa por propagar um relacionamento com o português Cristiano Ronaldo e por participar do reality show A Fazenda, da TV Record.

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Em 2014, modelo Andressa Urach implantou material semelhante ao plástico para ficar com a coxa mais grossa (Reprodução/VEJA)

“Até a tarde da última sexta-feira, a modelo e apresentadora de televisão gaúcha Andressa Urach, de 27 anos, recuperava-se na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Conceição, em Porto Alegre, de uma grave infecção decorrente de intervenção estética realizada fazia cinco anos. A vice-campeã do concurso Miss Bumbum 2012 teve os rins paralisados e foi submetida a respiração por meio de aparelhos. Na quarta-feira, ela já se livrara do suporte artificial. Apesar da melhora, não havia previsão de alta. Andressa nunca escondeu a sua predileção por procedimentos estéticos – preenchimento nos lábios, implante de silicone (cerca de 500 mililitros em cada mama), mudanças na anatomia do nariz e do maxilar, além de injeções de toxina botulínica. ‘Sempre quis ser perfeita como a Barbie’, dizia Andressa. (…) Em 2009, insatisfeita com o tamanho de suas coxas, submeteu-se ao implante de dois polímeros, compostos sintéticos semelhantes ao plástico. Foi

o que quase a matou.”

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Segundo a matéria, “as substâncias usadas foram a poliamida e o metacril, misturadas a uma solução de água e soro fisiológico, conhecida como hidrogel”, compostos que o organismo “é incapaz de absorver”. E seguia na explicação científica da agressão clínica à modelo. “O hidrogel é apenas um veículo para a aplicação dos polímeros e, eliminado pelo organismo, não oferece perigo. A princípio os polímeros seriam indicados para o preenchimento de rugas, em quantidades mínimas. Cada coxa de Andressa carregava pelo menos 500 mililitros do produto.”

Andressa teve de ser submetida a várias cirurgias para extrair os compostos de seu corpo quando começou a sentir os primeiros sintomas de infecção (dores, enjoo e febre alta), o problema é que “os polímeros são microscópicos e se espalham por entre as células de gordura, vasos sanguíneos e músculos”: “é, portanto, impossível removê-lo por completo, e o resultado é uma bomba-relógio”.

Vaidade pode matar

Tais barbaridades prejudicam pessoas de todas as classes sociais e perfis, celebridades ou não.

Em 4 de fevereiro de 2001, VEJA publicou a reportagem com o título “A vaidade que pode matar”, apresentando “o drama de quem quase morreu, por causa de plásticas, malhação e regimes malucos, para ter um corpo de modelo”.

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Entre os inúmeros casos trágicos, a revista contou a história da modelo carioca Cristina Fonseca, 19 anos. “Em maio do ano passado [2000], ela se achava 5 quilos acima do peso e decidiu fazer uma lipoaspiração. ‘O resultado seria mais rápido do que com dieta e exercício’, justifica. Escolher o médico foi fácil: bastou olhar os anúncios em um jornal. “Ele dividia o pagamento em até 25 vezes”, conta. Os problemas começaram antes de vencer a segunda prestação. Após a operação, Cristina ficou oito dias de cama, com a barriga cheia de nódulos, doendo muito. Uma segunda cirurgia, com o mesmo médico, só fez as dores piorarem. “Eu sangrava pelo umbigo. O doutor, que depois descobri ser ginecologista e não cirurgião plástico, tirou 18 seringas de sangue e de pus da ferida”, conta ela. Hoje, a clínica do médico paga o tratamento da modelo com a equipe de Ivo Pitanguy. As cicatrizes melhoraram, mas o sofrimento de Cristina não pode ser apagado. ‘Perdi o namorado, pois não conseguia mais ter relações sexuais, e estou até agora sem trabalhar, por causa das marcas. Minha dívidas somam R$ 8 mil.'”

Além de procedimentos estéticos em clínicas, a matéria abordava que a busca dos padrões de beleza também fazia vítimas nas academias.

“A advogada carioca Andréa Baptista, 29 anos, (…) sofria de hérnia umbilical, espécie de desgaste do músculo em torno do umbigo. O problema, entretanto, nunca a incomodara, até que há três anos ela passou a frequentar uma academia por cinco horas diárias. ‘Nunca avisei o médico desse problema, mas sentia uma aflição no umbigo toda vez que malhava pesado’, admite. A situação piorou quando Andréa participou do programa de TV No Limite, no ano passado, enfrentando seis semanas de esforço físico nas praias e dunas do Ceará. Na volta, ela foi direto para a academia, preparar-se para as fotos que faria para a revista Playboy. Andréa nem desconfiava que o excesso de exercícios poderia ter feito a hérnia supurar, ameaçando sua saúde. Sorte sua que um cirurgião percebeu o perigo e a operou a tempo. ‘Agora, malho apenas uma hora e meia por dia. O resultado demora mais a aparecer, mas é melhor para o meu bem-estar’, reconhece Andréa.”

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