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Vale a pena ler de novo o que saiu nas páginas de VEJA em quase cinco décadas de história
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“Quem é você, Nelson Rodrigues?”

Essa foi a primeira pergunta da entrevista que marcou o surgimento das páginas amarelas, a célebre seção de entrevistas de VEJA, em 1969

Por Daniel Jelin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 21h48 - Publicado em 19 set 2016, 21h43
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  • As célebres páginas amarelas, que nesta semana ganham versão on-line, surgiram em junho de 1969, menos de um ano após o nascimento de VEJA, e tomaram forma próxima da atual ao longo de 1970. O primeiro entrevistado da seção, pela qual já passaram os maiores nomes da política, economia, ciência, arte e espetáculos, foi o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues. À época com 56 anos, o autor de Vestido de Noiva, Álbum de Família e Anjo Negro era apresentado como “o mais amado, o mais odiado e o mais discutido comentarista político do Brasil”. Na conversa, Nelson critica: a esquerda, o jovem, o carnaval, o cinema, o Maracanã (que leva o nome de seu irmão, Mário Filho), São Paulo, Piauí, o arcebispo Dom Hélder Câmara, o intelectual católico Alceu Amoroso Lima… E explica sua aversão ao biquíni: “O biquíni é a degradação da nudez. A nudez, para que tenha um valor plástico, para que tenha um interesse visual, na pior das hipóteses, exige o desejo. Mas eu vou além: a nudez exige o amor. Portanto, a nudez sem o desejo e, pior ainda, a nudez sem o amor é o que há de mais feio”. Confira trecho da entrevista:

    Entrevista com Nelson Rodrigues, em VEJA de 4 de junho de 1969

    Entrevista com Nelson Rodrigues, em VEJA de 4 de junho de 1969

    Quem é você, Nelson Rodrigues? Eu sou um pierrô, sou um romântico. Mas o romântico piegas. Não o romântico de grande estilo, não o wagneriano. E aí me veio essa vergonha de ser romântico e uma certa tendência para negar essa emotividade fácil e vagamente burlesca.

    Dizem que você é obsessivo… Eu sou uma flor de obsessão.

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    Você é reacionário, Nelson Rodrigues? Na televisão, sempre que me lembro, eu digo que sou reacionário, só pra chatear.

    Mas você é ou não é reacionário? Se a Rússia – onde não existe o direito de greve, onde uma vez o Stálin, de uma só cajadada, matou 12 milhões de camponeses de fome punitiva, onde toda a experiência socialista tem 100 milhões de mortos a pauladas –, se a Rússia se considera libertária, se acha que está trabalhando para o futuro, que é o futuro, então, nesse caso, eu sou reacionário, sou o passado, sou a Idade Média. E prefiro ser a Idade Média, pois a Rússia é a pré-Idade Média. E, então, assim mesmo, estou na frente da Rússia.

    Como é que sua coluna passou a ser política? Passei à ação política simplesmente porque deixei de ser covarde. Sou um ex-covarde.

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    Mas, na política, o que você é exatamente? Eu sou um anticomunista que se declara anticomunista. Geralmente, o anticomunista diz que não é. Mas eu sou e o confesso.

    Por quê? Porque a experiência comunista inventou a antipessoa, ou o anti-homem. Conhecíamos o canalha, o mentiroso, o vampiro de Düsseldorf. Mas, todos os pulhas de todos os tempos e de todos os idiomas, ainda assim, homens. O comunismo, porém, inventou alguém que não é homem. Para o comunista, o que nós chamamos de dignidade é um preconceito burguês. Para o comunista, o pequeno burguês é um idiota absoluto justamente porque tem escrúpulos.

    Sua fúria anticomunista não é hidrófoba? Não, o comunismo é que é hidrófobo. Minha fúria é a de um homem que ama a liberdade. Eu sou um homem que põe a liberdade acima do pão.

    Clique para ler a íntegra da entrevista em VEJA de 4 de junho de 1969.

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