Há 25 anos, o Nirvana atingia sucesso planetário com o lançamento do single Smells Like Teen Spirit, em 10 de setembro de 1991, e do álbum Nevermind, no dia 24 do mesmo mês. Em janeiro de 1992, mês em que a banda desbancaria Michael Jackson do topo da parada da Billboard, Kurt Cobain e companhia apareceram pela primeira vez nas páginas de VEJA. A reportagem observava que, “apesar do nome execrável”, a banda é “uma extraordinária exceção” na vala comum do rock:
“O Nirvana mostra ter justamente o que falta em bandas iniciantes: um estilo, um rosto, algo que o diferencia no oceano dos novatos. A base de seu rock é simplíssima: os famosos três acordes, executados da forma mais rude e direta possível. Em muitas introduções de suas músicas, pensa-se estar na frente de um grupo punk. Logo, porém, vem o recheio. Primeiro, um paredão de guitarras, muito bem executadas, que envolve o ouvinte – um truque que lembra as táticas do lendário produtor Phil Spector em todos aqueles discos deliciosos do começo da soul music americana. Depois, assoma o cantor Kurt Cobain, que a cada faixa prova que é do ramo. Ele é capaz tanto de sussurrar as letras quanto de despejá-las em vocalizações lancinantes, que parecem ditar verdades definitivas sobre o mundo. Longe disso. As letras do Nirvana não são o forte do grupo.”
A reportagem observava também que, com o sucesso vertiginoso, “os integrantes do grupo agora posam de estrelas”. E se a música é boa, o discurso é mixuruca. Krist (à época ainda Chris) Novoselic, por exemplo, dizia o seguinte sobre o mercado fonográfico: “A indústria de discos deveria ser socializada, os LPs poderiam sair quase de graça”. “Melhor ouvi-los com a guitarra na mão”, arrematava a reportagem.
Prestes a se apresentar pela primeira vez no Brasil, um ano depois, Novoselic concedeu uma longa entrevista a VEJA sobre a ascensão meteórica da banda, dinheiro, fama, drogas e seus (muitos) desafetos na mundo da música: Guns N’Roses (“eu os detesto”), os Stones (“morreram em meados da década de 70″), a Madonna (“detestável, totalmente falsa”), Motley Crew, Skid Row, Poison (“receita medíocre”) etc. Na conversa, sobra até para os próprios fãs da banda, que considera formado por 80% de idiotas. O baixista afirmou mais tarde ter sido mal interpretado, em mensagem lida por João Gordo no palco do show em São Paulo. Naquele dia, diga-se, 100% da plateia foi tratada como idiota. O show acabou ficando famoso de tão tacanho e nonsense. Novoselic nem cuidou de afinar seu instrumento. Cobain não acertava as notas. As músicas desapareciam sob o volume da microfonia – ou eram interrompidas e retomadas do começo. Teve cover de Iron Maiden, Queen e Duran Duran, um pior que o outro. Flea, dos Red Hot Chili Peppers, apareceu para tocar trompete em Smells Like Teen Spirit. A certa altura, Cobain tocou bateria, o baterista Dave Grohl, baixo, e o baxisita Novoselic, guitarra – mal, mal e mal. Para não variar, instrumentos e equipamentos de som foram metodicamente destruídos. O técnico de som da banda jogou um melão no palco.
A propósito da passagem das bandas de Seattle pelo Brasil, VEJA registrou na reportagem intitulada ‘O grunge virou jeca’ que elas se esforçam para chocar, mas só provocam sono e risadas: “Os roqueiros da chamada ‘geração de Seattle’ são os pop-jecas da atualidade. Portam-se como aqueles cidadãos provincianos que posam de caipiras em festa chique e fazem piada das próprias gafes. Nas duas últimas semanas, parte dessa trupe desembarcou no Brasil a bordo do festival Hollywood Rock, coroando um período em que vários LPs de bandas de Seattle chegaram ao país. Através dos novos discos dos grupos Mudhoney e Alice in Chains, e de uma coletânea do Nirvana composta por músicas inéditas em LPs, foi possível comprovar como essa turma de amadores criativos injetou novas ideias ao rock dos anos 90. O que era novidade em disco tornou-se enfadonho ao vivo. Nos shows no Brasil, o amadorismo de Nirvana e Alice in Chains arrancou bocejos e vaias da plateia.”
Pouco mais de um ano depois, sucumbindo ao peso do próprio sucesso, Cobain se matava com um tiro na cabeça em sua casa, em Seattle.
Leia em VEJA de 27 de janeiro de 1993: O grunge virou jeca
Leia em VEJA de 13 de janeiro de 1993: Ganhamos na loteria
Leia em VEJA de 8 de janeiro de 1992: Da garagem para a fama