Último mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

VEJA 1 – O gerúndio, o gerundismo e o erro

André Petry assina um texto interessante sobre o uso do gerúndio em português (e a tentativa do governo do DF de bani-lo) e ouve especialistas sobre o assunto. Eles acertam numa coisa óbvia: o nosso “cantando” não é nem mais certo nem mais errado do que o “a cantar” dos portugueses. Faltasse alguma evidência, há […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 6 jun 2024, 08h26 - Publicado em 27 out 2007, 06h31

André Petry assina um texto interessante sobre o uso do gerúndio em português (e a tentativa do governo do DF de bani-lo) e ouve especialistas sobre o assunto. Eles acertam numa coisa óbvia: o nosso “cantando” não é nem mais certo nem mais errado do que o “a cantar” dos portugueses. Faltasse alguma evidência, há Camões em Os Lusíadas: “Cantando espalharei por toda parte/ Se a tanto me ajudar engenho e arte”.

Mas atenção: o gerúndio “cantando” de Camões nada tem a ver com o “vou estar cantando amanha”, expressão do tal “gerundismo”. E alguns especialistas cometem o erro de endossar essa construção, uma estrovenga que entrou na língua. Uma coisa é afirmar que o gerúndio nosso de cada dia — ”estou estudando” — é construçao até mais antiga do que o infinitivo gerundivo lusitano “estou a estudar”. Perfeito. Outra é confundir esse emprego com o vicioso “vou estar estudando”.

A professora Ana Paula Scher, da Universidade de São Paulo, acatando o gerundismo como uma expressão possível, tem uma explicação: “Quando ouvimos isso, interpretamos que não existe nenhum comprometimento, por parte do falante, de que a ação vai ser levada a cabo”. Ela é autora de um trabalho sobre o tema junto com a professora Evani Viotti. Segundo Ana Paula, “é uma estratégia adotada por quem não tem poder de decisão”.

Com a devida vênia, isso não é gramática, mas chute. Podemos encontrar em qualquer manual razoável quando e como empregamos os tempos do modo indicativo, os do subjuntivo, os dois imperativos e as formas nominais dos verbos. Mas essa explicação para o gerundivo é uma jabuticaba que só floresce no quintal das professoras. Na verdade, é uma besteira. A língua portuguesa já tem o modo da incerteza: o subjuntivo. O da embromação e do trambique é uma invenção de acadêmicos. Se elas estivessem certas, o Brasil teria criado uma nova forma verbal. Não criou. Só popularizou um erro.

Os acadêmicos podem até fazer digressões sobre as estratégias dos falantes e o que eles pretendem quando fazem este ou aquele uso da língua. Daí a considerar a construção uma variante possível da norma culta — como é o “cantando” de Camões — vai uma grande diferença.

Continua após a publicidade

O melhor uso
Ademais, o gerúndio é muito mais rico do que isso. Não vou abusar do jargão técnico — os especialistas em gramática saberão do que se trata, e o não-especialista vai entender: um gerúndio pode expressar:
causa – “Estando sem saída, o padre confessou seus pecados”
modo – “Sorrindo, eu pretendo levar a vida”. Cartola, brasileiro, é bem verdade, preferiu escrever “A sorrir, eu pretendo levar a vida…”
condição – “Havendo quem compre droga, haverá oferta.”
concessão – “Sendo corintiano, mentiu que era palmeirense”
Pode também ter um sentido adjetivo: “Encontrei o correria andando de Pajero”

Observem que nem sempre se pode escolher entre o gerúndio e a construção tipicamente portuguesa, com o infinitivo.

O leitor não pode e não deve duvidar de uma coisa: o chamado “gerundismo” é um erro, sim. E, por isso, tem de ser evitado e combatido.
Assinante lê mais aqui

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.