Não foram muito felizes ontem a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil), Claudio Lottenberg, em suas respectivas falas em evento promovido em Porto Alegre, no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Lottenberg comparou o sofrimento dos judeus durante a Segunda Guerra à tortura a que a petista, então militante de um grupo terrorista, foi submetida durante o regime militar: “A senhora, presidente Dilma Rousseff, sabe melhor que todos o que significa ser torturada, […] o que este tipo de agressão pode significar para alguém, por mais que sobreviva.” Dilma foi na mesma linha: “Lembrar Auschwitz-Birkenau é lembrar todas as vítimas de todas as guerras injustas, todas as ditaduras que tentaram calar seres humanos”. Fazendo certamente alusão a um outro debate existente no Brasil, afirmou ainda: “A memória é uma arma humana para impedir a repetição da barbárie”.
Vênia máxima aos dois, trata-se de uma associação descabida porque nada deve ser comparado ao incomparável. É bom que o Holocausto seja sempre evitado como régua do horror. A tortura, no Brasil e em qualquer parte, é asquerosa. Com justeza, a nossa Constituição tornou esse crime inafiançável e imprescritível, e temos uma lei para puni-lo. Infelizmente, presos comuns são ainda cotidianamente submetidos a tratamento cruel nas cadeias do país.
Não deveria ser eu a lembrar a Lottenberg e a Dilma que esse é um caminho perigoso, mas lembro mesmo assim. Quando nega o Holocausto judeu ou relativiza a sua importância, Ahmadinejad, por exemplo, costuma apontar o sofrimento de vários outros povos da Terra ao longo da história, como a dizer: “Ainda que o Holocausto tenha acontecido, os judeus não foram ou não são os únicos a sofrer.
Não dá! Quem caminha por aí acaba rebaixando a fealdade do Holocausto em vez de elevar a fealdade dos outros crimes.