UM POUCO DE REALISMO POLÍTICO NO REALISMO ECONÔMICO
(leia primeiro o post abaixo)Interessante essa história da poupança. Um pequeno partido, o PSS, deu um nó no governo numa questão que é, com efeito, relevante. Há múltiplas coisas a comentar aí. Começo destacando a óbvia demora do PSDB e do DEM em perceber que estavam diante de algo sensível à opinião pública. Tão sensível, […]
Interessante essa história da poupança. Um pequeno partido, o PSS, deu um nó no governo numa questão que é, com efeito, relevante. Há múltiplas coisas a comentar aí.
Começo destacando a óbvia demora do PSDB e do DEM em perceber que estavam diante de algo sensível à opinião pública. Tão sensível, que Lula sabe que vai ter de fazer alguma coisa, mas hesita. Na verdade, este blog apurou que a decisão já tinha sido tomada há tempos, quase foi anunciada, mas houve um recuo. “Mexer na poupança”, como percebeu o PPS, remete a um passado não muito meritório.
“Ah, tecnicamente, dada a queda de juros, a mudança faz todo sentido”. Pois é. Então chegamos a uma questão realmente relevante.
Alguém já viu o PT parar para ponderar: “É, de fato, isso faz sentido; nós vamos apoiar”? Nunca! Nem antes, quando se opunha ao governo federal; nem agora, quando se opõe a alguns governos estaduais. Infelizmente, a oposição sistemática tem sido uma de suas grandes vantagens comparativas.
Enquanto as atuais oposições, claramente, o ajudam a governar o país, o partido, sempre que tem a oportunidade, sabota a gestão de adversários. Dou dois exemplos gritantes em São Paulo: o apoio à greve armada de uma minoria radicalizada da Polícia Civil e a mobilização contra um plano de qualificação de professores no estado.
Coerência, razoabilidade, ponderação, tudo isso constitui uma cruz que só deve pesar nos ombros de seus adversários.
Ocorre que as oposições pensam a mesma coisa: “Não seremos como o PT, dizendo sempre ‘não’ a tudo”. Ok. Que não sejam. MAS, ENTÃO, É PRECISO ENCONTRAR UMA RESPOSTA PARA SAIR DA ATUAL SINUCA, que poderia ser definida como falta de reciprocidade. O PPS percebeu a importância que a poupança tem para os brasileiros e pôs o governo numa situação difícil. TÃO DIFÍCIL, QUE NÃO APARECEU NENHUM PETISTA, ATÉ AGORA, PARA DEFENDER A MUDANÇA NA POUPANÇA. Quem correu em socorro do governo foi o banqueiro Roberto Setúbal, ocupando o lugar de Henrique Fontana (PT-RS), líder do governo na Câmara. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), por exemplo, poderia nos explicar por que é preciso mudar. É um dos economistas do partido, não?
Assim como a poupança é uma dificuldade objetiva do governo — que foi pego no pulo pelo PPS —, há outros problemas por aí que dizem respeito à equação política. Ora, o governo muda o rendimento da dita-cuja se quiser. PPS, PSDB e DEM nada podem fazer para impedir. O que fazem é agir para que o governo arque com o custo da mudança. E ISSO FAZ PARTE DA POLÍTICA. Aqui e em qualquer lugar do mundo. Ou alguém classificou de ilegítimas as ações do PT contra a privatização? O governo de então encarou o desafio — e aquela resistência seria útil, mais tarde, para o partido chegar ao poder. Esse é o jogo.
Vejo como politicamente auspiciosa a percepção do PPS porque foi uma das raras vezes em que as oposições compreenderam a natureza desse jogo. Dar apoio institucional ao governo — e isso significa atuar nos limites da lei (ver observação abaixo) — não significa atuar como base de apoio. Ora, a base de apoio que saia defendendo a necessidade de mudar a poupança.
OBSERVAÇÃO – Noto que o PT atua além dos limites institucionais — e, pois, legais — quando se opõe a governos. Apoiar, por exemplo, um movimento grevista armado é banditismo, é terrorismo, não é política. Sim, isso a oposição ao PT não fez, não faz e, espero, jamais fará.