Terror acirra rivalidade Índia-Paquistão
Por Raul Joste Lores, na Folha:Os atentados que mantiveram Mumbai sob domínio terrorista por 62 horas entre os últimos dias 26 e 29 conturbaram ainda mais uma das fronteiras mais explosivas do mundo: a que divide Índia e Paquistão, potências nucleares que já se enfrentaram em três guerras desde a independência de ambos do Reino […]
Os atentados que mantiveram Mumbai sob domínio terrorista por 62 horas entre os últimos dias 26 e 29 conturbaram ainda mais uma das fronteiras mais explosivas do mundo: a que divide Índia e Paquistão, potências nucleares que já se enfrentaram em três guerras desde a independência de ambos do Reino Unido, em 1947.
Na Índia, um partido nacionalista hindu que prega retaliações ao Paquistão pode chegar ao poder em 2009. O moderado premiê Manmohan Singh enfrenta a desaceleração econômica mundial e críticas por ser fraco contra o terrorismo.
Já o Paquistão está sob pressão dos EUA, seu aliado histórico, para combater o fundamentalismo islâmico. Considerado refúgio da Al Qaeda, o país ainda precisou recentemente de um resgate do FMI para salvar sua economia em frangalhos.
A rivalidade pode se agravar se o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP), acusado de antimuçulmano, emplacar na campanha para as próximas eleições legislativas indianas sua bandeira de combate ao terrorismo fundamentalista.
Soma-se à sua retórica a previsão de que a economia indiana, depois de anos de crescimento acima de 9%, deve avançar de 4% a 5% no ano que vem, o que enfraquece o principal trunfo do governo Singh, a prosperidade econômica.
Para especialistas, as forças de segurança indianas não estão preparadas para o terrorismo. Os comandos levaram nove horas para chegar aos locais onde os radicais faziam centenas de reféns. “Aqui cada pedaço de prova vira uma conclusão, qualquer suspeita vira prisão, e os muçulmanos acham que a polícia está sempre contra eles, o que em parte é verdade”, diz o analista Swapan Dasgupta. “A polícia é incompetente.”
Lidar com o vizinho também ficou mais difícil. “O Paquistão está perto de ser um Estado falido”, disse à Folha o historiador indiano Ramachandra Guha. “O governo não tem controle nem do Exército, nem de seu serviço secreto, que também não se falam entre si. Há áreas do país com campos de treinamento de terroristas que o governo não consegue controlar.”