Renan, VEJA e o ventilador
Leia o que vai no Estadão On Line. Volto em seguida: O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou mais uma vez se defender no Senado nesta terça-feira, 7, e bateu boca com o líder do DEM no Senado, José Agripino (DEM). Agripino pediu que Renan deixasse a presidência da Casa e reiterou que o […]
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou mais uma vez se defender no Senado nesta terça-feira, 7, e bateu boca com o líder do DEM no Senado, José Agripino (DEM). Agripino pediu que Renan deixasse a presidência da Casa e reiterou que o partido articula um processo de obstrução a votações em sessões presididas pelo senador.
Em resposta, Renan citou “concessões e financiamentos estatais” que Agripino teria: “Se sofresse a pressão que sofro por duas semanas, não agüentaria. O líder do DEM interrompeu o presidente do Senado cobrando esclarecimentos sobre as acusações: “Débitos? Que débitos? Vossa Excelência tem obrigação de dizer”.
Renan respondeu: “O que falei é que estou submetido a devassa e que poucos teriam a condição de abrir declaração de renda como fiz. Mas que se Vossa Excelência estivesse na minha situação não o prejulgaria”. Agripino pediu novamente explicações: “Meus negócios são todos legítimos. Se tem alguma acusação contra mim, deixe claro”.
“Nada tenho a temer, nada tenho a esconder”, disse o senador em sua defesa. E não poupou acusações à revista Veja. No início de seu discurso, afirmou que há dois meses vem sendo vítima de um “impiedoso ataque que já se transformou em campanha”. O senador diz que vive um calvário e é agredido “diariamente” em uma briga política paroquial. Como exemplo, Renan citou a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) e João Lyra (PTB).
Renan responde a processo por quebra de decoro sob a acusação de ter despesas pessoais pagas por um lobista. A abertura de inquérito sobre o caso foi autorizada pelo STF na última segunda-feira com base no pedido do procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza. Nomesmo dia, Lewandovski foi designado relator da investigação no Supremo.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) juntou-se a Agripino ao pedir a saída temporária de Renan. “Você daria um belo gesto de presente à nação se prosseguisse no seu direito legítimo de fazer sua defesa como senador, provisoriamente, substituído por direito, num processo que, se Deus quiser, haverá de correr celeremente.”
Quem saiu em defesa de Renan foi o senador Almeida Lima (PMDB-SE), um dos relatores do processo contra o senador no Conselho de Ética. Lima condenou a revista Veja e disse que outros veículos de comunicação têm demonstrado “má vontade” com Renan. Segundo o relator, o pedido do presidente do Senado para ser investigado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando, não ganhou destaque devido na mídia. “Vossa Excelência deu uma demonstração de que nada tinha a esconder”, afirmou.
Sobra a nova denúncia de que Renan teria usado “laranjas” para comprar emissoras de rádio, Lima disse que leu a reportagem e as acusações são “vazias”: “Eu quero concluir, dizendo que, essa não é uma denúncia grave. A grave é aquela que vem embasada em provas, essa é vazia, pois apresenta em sentido contrário”.
A senadora petista Ideli Salvatti, que chegou a defender Renan anteriormente, disse que sobre o caso não pode pairar dúvidas e que “as investigações têm que acontecer até as últimas conseqüências , sejam os resultados quais forem”. Ideli, no entanto, ponderou sobre a saída de Renan do cargo: “É claro que é legítimo ao Agripino e Virgílio pedir que você se afaste da presidência, agora, o afastamento ou não, é único e exclusivo do seu desejo”.
Ideli comparou o processo de Renan ao de Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, no caso Mônica Lewinski. “A legislação americana não obriga a sair do cargo. Ele ficou no cargo todo o caso e foi absolvido no final”, afirmou. O senador Jose Nery (PSOL-PA) disse que a suspeita de Renan ter despesas pessoais pagas por um lobista trata-se de um “fato grave”. Disse que o processo no conselho é uma investigação e não “condenação antecipada”.
VolteiEssa é a linguagem que Renan entende e, a rigor, foi a que o fez chegar tão longe na política — em qualquer governo, diga-se. O topo, mesmo, no entanto, ele só encontrou na gestão Lula.
Observem que o método é sempre o mesmo:
– Agripino Maia pede o seu afastamento da Presidência? Ele lança dúvidas sobre a lisura dos negócios do senador. Instado a dizer quais são, ele declina, deixando no ar a suspeita;
– Ele considera que a revista VEJA é a responsável por seus infortúnios? Lança dúvidas sobre as negociações da Abril para vender a TVA à Telefonica. Convidado a dizer quais são essas irregularidades, ele também declina, sugerindo que sabe mais do que diz. E não sabe porque não há nada mais a saber.
É o modus operandi de alguém que faz da chantagem a moeda de troca da política — no caso, chantagem sem lastro. Ora, desde logo, perguntam-se duas coisas:
1 – Se Renan sabe algo contra Agripino, por que não disse antes?
Resposta – Porque a suposta informação sempre lhe poderia ser útil.
2 – Se sabe algo contra a Editora Abril, por que não disse antes?
Resposta – Porque sempre poderia negociar a suposta informação.
No caso de Agripino, o desassombro do senador parece indicar que ele não tem motivos para ter medo de Renan. No caso da Abril, é evidente que Renan tenta criminalizar um negócio legal. E o faz porque, claro, a VEJA não fez e não fará as suas vontades. Trata-se da velha tática de jogar meleca no ventilador para ver se todo mundo sai com o terno borrado.
Com efeito, ele tem motivos para estar bravo com a VEJA. De fato, ao fazer só jornalismo, bateu de frente com Renan Calheiros.