Em meio às denúncias de que teria recebido recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou hoje a exposição de sua vida pessoal na mídia.
Ao ser questionado se teme novas revelações da jornalista que poderiam comprometê-lo com novas denúncias, Renan comparou o episódio com uma “fofoca”.
“Eu não quero entrar no mérito, na particularidade de nada disso. Eu só temo que a expectativa do país possa ser o seguinte: você já sabe o que vai sair na ‘Contigo’ do próximo domingo? O que vai sair na ‘Contigo’ pode dar uma grande CPI”, ironizou.
Em entrevista publicada hoje pela Folha com a jornalista, ela diz que não é ameaça para ninguém –mas diz que tem “muito a contar”.
Renan reiterou que, ao longo “desse episódio”, preservou todos os personagens da história para proteger sua filha com a jornalista. “O que enfatizo é que durante a gravidez eu protegi a gestante, cuidei da minha filha e quero que ela tenha o mesmo tratamento que eu dediquei aos meus outros filhos”, afirmou.
O presidente do Senado foi acusado pela revista “Veja” de utilizar recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão e o aluguel de um apartamento à jornalista.
Segundo a revista, o lobista da empreiteira, Cláudio Gontijo, entregava mensalmente envelopes a Mônica Veloso para o pagamento da pensão.
Renan alega que o lobista apenas repassava o dinheiro do senador à jornalista –para evitar “constrangimentos” ao presidente do Senado.
Documentos
Renan conseguiu comprovar o pagamento de pensão de R$ 3.000 a partir de fevereiro de 2006, quando passou a descontar o valor de seu contracheque. Questionado por parlamentares, o senador encaminhou à Corregedoria do Senado documentos sigilosos que comprovariam o pagamento de pensão de R$ 8.000 a Mônica Veloso entre 2004 e 2005 –período em que não havia reconhecido a filha oficialmente.
O PSOL ingressou com representação no Conselho de Ética do Senado contra Renan por quebra de decoro parlamentar. O conselho se reúne na próxima quarta-feira para discutir o caso.
Voltei
Renan pode ficar tranqüilo. A revista Contigo, suponho, não se interessa pela sua vida privada. Ela parece muito chata, e seus talentos mais evidentes demandam mesmo é o acompanhamento do jornalismo político — ainda que, no Brasil e no mundo, com alguma freqüência, a cobertura de política se confunda com a de polícia.
A tentativa de Renan é jogar para a platéia — no caso, a do Senado, não aquela que se interessa pelos artistas que aparecem em Contigo —, tentando fazer crer que o escândalo em que está envolvido diz respeito a coisas da vida privada. Não é verdade. Renan só está enrolado porque o lobista de uma empreiteira era o encarregado do pagamento da pensão à mãe de sua filha. Pagamento em dinheiro — por qualquer razão, as pessoas envolvidas nessa operação não acreditam em bancos.