A Folha traz um áudio de uma reunião do Conselho de Administração da estatal de 23 de janeiro em que Graça Foster, então presidente da empresa, revela o temor de perder seus bens, até a casa em que mora, e de ser presa. Justiça se faça, a fala revela honestidade de propósitos e genuína perplexidade. Não é uma bandida quem se pronuncia, mas alguém que está no comando de um troço fora do controle. Vamos ver.
O conselho conversava sobre a baixa de ativos de R$ 88,6 bilhões a que chegou um levantamento feito pela Deloitte e pelo BNP Paribas. Um conselheiro quis saber foram estimados os riscos de ações judiciais no Brasil e no exterior. Graça, então, diz com um misto de desconsolo e ironia amarga:
“Se eu vou ser presa ou não, não entrou na metodologia. Se eu vou ter que entregar a casa que moro por conta desses valores, não entrou na metodologia. Fizemos as contas como as contas são.”
Ou por outra: a orientação passada para os avaliadores parece ter sido esta: sejam realistas. Dilma não aceitou os números e os cortou pela metade. Como se sabe. Ao comentar reunião da diretoria executiva do dia anterior, Graça desabafou, perplexa:
“Não é possível que essa diretoria, durante três anos, no meu caso e do (Almir) Barbassa, durante outros quatro anos, deixamos que tal coisa acontecesse. Eu posso dizer: ‘Não, mas eu era diretora de Gás e Energia e, na área de Gás e Energia, as coisas estão acomodadas. Mas eu, como diretora e presidente, não poderia ter deixado chegar aonde chegou.”
Pois é… Não poderia. A questão é saber se é possível controlar a Petrobras enquanto ela for uma gigante estatal — tem ações na Bolsa, eu sei; oficialmente, é de economia mista, mas a gente sabe quem manda lá.
Depois da perplexidade, o receio fica mais claro:
“Aí até fala [sic] em prisão. Até fala em prisão. Tem aqui. Eu estou falando de uma metodologia ‘by the book’. Agora, o que vai acontecer com meu emprego? Com a minha carreira? Com a minha vida pessoal? Eu não sei, tenho os advogados que vão dizer. A metodologia tem que ser imune aos meus medos e meus receios.”
O que isso revela
As falas revelam, sim, uma Graça muito provavelmente honesta. Honesta, inclusive, ao admitir que, mesmo como presidente, não tinha o que fazer porque a máquina estatal está aparelhada por um ente que nada tem a ver com petróleo ou com eficiência.
Ao ler as falas da então presidente da Petrobras, eu me lembro da entrevista de uma certa ministra Dilma Rousseff, cantando as glórias do sistema de transparência da gestão da estatal. Isso explica tudo. Depois do vídeo, transcrevo a fala dela.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=RDtSMccA1gA%5D
“Eu acredito que a Petrobras é uma empresa tão importante do ponto de vista estratégico, no Brasil, mas também por ser a maior empresa, a maior empregadora, a maior contratadora de bens e serviços e a empresa que, hoje, vai ocupar cada vez mais, a partir do pré-sal, espaço muito grande, né?, ela é uma empresa que tem de ser preservada. Acho que você pode, todos os objetos, pelo menos os que eu vi da CPI, você pode investigar usando TCU e o Ministério Público. Essa história de falar que a Petrobras é uma caixa-preta… Ela pode ter sido uma caixa-preta em 97, em 98, em 99, em 2000. A Petrobras de hoje é uma empresa com um nível de contabilidade dos mais apurados do mundo. Porque, caso contrário, os investidores não a procurariam como sendo um dos grandes objetos de investimento. Investidor não investe em caixa-preta desse tipo. Agora, é espantoso que se refiram dessa forma a uma empresa do porte da Petrobras. Ninguém vai e abre ação na Bolsa de Nova York e é fiscalizado pela Sarbanes-Oxley e aprovado sem ter um nível de controle bastante razoável”.
Nota: Sarbanes-Oxley é o nome de uma lei dos EUA (formado a partir dos respectivos sobrenomes de um senador e de um deputado), de 2002, que estabelece mecanismos de transparência contábil para as empresas que operam na Bolsa dos EUA.
O medo de Graça de ser presa mostra como Dilma estava falando a verdade, né?