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Protecionismo no setor automobilístico e o risco do jumento chifrudo

Imaginem um cruzamento ideal entre a vaca e o jumento: o híbrido seria exímio para puxar carroça e ainda daria litros de leite. Mas e se acontecesse o contrário: nem dar leite nem servir para a tração? Seria só um jumento com chifres!  É o que costuma acontecer quando uma economia aberta (ou quase) adota […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h45 - Publicado em 15 set 2011, 23h50

Imaginem um cruzamento ideal entre a vaca e o jumento: o híbrido seria exímio para puxar carroça e ainda daria litros de leite. Mas e se acontecesse o contrário: nem dar leite nem servir para a tração? Seria só um jumento com chifres!  É o que costuma acontecer quando uma economia aberta (ou quase) adota medidas para proteger um determinado setor, sob o pretexto de proteger empregos nacionais ou sei lá o quê.

O governo anunciou nesta quinta que vai elevar em 30 pontos percentuais o IPI de carros e caminhões que não cumprirem as novas exigências estabelecidas pelo governo: as montadoras vão ter de utilizar ao menos 65% de conteúdo nacional ou do Mercosul nos veículos, investir em pesquisa etc. — há 11 requisitos; para que não haja o aumento, será necessário cumprir pelo menos 6.

“É uma medida que garante a expansão dos investimentos no Brasil, o desenvolvimento tecnológico e a expansão da capacidade produtiva no Brasil”, afirmou Guido Mantega. É mesmo? Era o que se dizia no tempo de um clássico do protecionismo, que fez milionários e deixou o Brasil nas cavernas: a chamada Lei da Informática, de triste memória. Pode acontecer o contrário do que diz Mantega: novas empresas desistem de investir no Brasil; as que já estão aqui aproveitam para aumentar o preço e não se vêem obrigadas a concorrer; o lucro é garantido, e o brasileiro passa a pagar caro por carro meio vagabundo… É o jumento de chifres.

É evidente que o governo decidiu escolher mais um setor para “proteger”. Por que não os outros? A rotina para responder ao desequilíbrio macroeconômico será, então, essa, revestindo a concessão de privilégios de interesse estratégico? O presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotoras (Abeiva), José Luiz Gandini, fornece uma informação importante. Ele não tem motivos para gostar da medida, é evidente, mas dado é dado: em 2010, foram comercializados 120 mil carros estrangeiros num mercado de 2,5 milhões de automóveis — 4,8% do total apenas.

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Mantega e o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) alegaram que isso vai proteger os empregos brasileiros etc e tal. É um argumento clássico do protecionismo, não é? O fato é que o que está exportando empregos é o câmbio. Mercadante, grandiloqüente como sempre, afirmou que quem quiser se aproveitar do mercado brasileiro vai ter de investir aqui: “Mesmo porque, lá fora, não tem muitas opções”.

Vamos ver. De imediato, uma coisa é certa: o consumidor vai pagar o pato. E também vai se dar mal aquele setor da economia que investiu no mercado de carros importados segundo as regras então vigentes. Se os empregos vão ser mesmo protegidos, o tempo dirá. Medidas semelhantes, em outros momentos, só geraram atrasos e alimentaram pançudos. Nem leite nem tração. Só jumento de chifres.

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