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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Para Jair Bolsonaro, só nasce uma mulher quando o homem fraqueja!

O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Fernando Lottenberg, considerou a iniciativa um erro: “Como era previsto, provocou divisão e confusão”

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 7 abr 2017, 06h34 - Publicado em 6 abr 2017, 22h58
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  • Uma coisa que começa errada pode resultar num acerto? Olhem… Raramente! Se estivermos, então, falando de uma palestra e se o erro já se mostra na escolha do convidado, bem, aí é batata!

    Não, eu não sou judeu. E acho que a questão judaica é importante demais para ser exclusividade de… judeus. Assim, errou feio o clube A Hebraica, do Rio, ao convidar o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para uma palestra. Ainda que ele não tivesse dito — e disse! — nenhuma boçalidade, a decisão estaria errada do mesmo jeito. Não poderia ter estado lá é pelo conjunto da obra.

    O deputado, ao menos, não fingiu o que não é. Disse a que foi. Este senhor parece não ter as mulheres em alta conta. Ele é hoje mundialmente famoso por ter dito que uma deputada não “MERECIA” ser estuprada porque é muito feia.

    E ele resolveu fazer o que certamente entendeu que passaria por um gracejo. Ao falar de sua prole, disparou: “[Tenho] cinco filhos, quatro são homens. No quinto, eu dei uma fraquejada, veio uma mulher”. O que lhes parece?

    “Ah, foi uma brincadeira…” É mesmo? Que coisa engraçada, espirituosa, inteligente!!!

    Leio na Folha que foi aplaudido diversas vezes, e alguns gritavam: “Mito!”.

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    Pois é… E ele resolveu ampliar o leque de suas frases realmente mitológicas: “Quilombola não serve nem para procriar”. Qual será o sentido secreto de tal declaração, além de desqualificar os quilombolas só porque são quilombolas?

    Mas esse é Bolsonaro. Já defendeu que um pai, ao notar que o filho pode ser gay, “resolva” a coisa com uma surra.

    Bolsonaro acha que um gay deve ser espancado por ser gay. Que uma mulher pode ser alvo de uma piada estúpida por ser mulher. Que uma bonita merece ser estuprada porque bonita. Que um quilombola tem de ser desprezado por ser quilombola. Assim como se achou um dia, na Alemanha e em outros países da Europa, que um judeu merecia sofrer sanções por ser judeu. Sabemos como aquilo terminou.

    “Não exagere na comparação…” Não se trata de comparar. Eu quero saber como A Hebraica se sente ao abrigar a voz de alguém que defende a punição de pessoas apenas por serem quem são.

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    Nesse sentido, aplausos para o grupo de judeus (e, suponho, não judeus) que protestou aos gritos de “judeu sem memória”. Como Bolsonaro reagiu? Com um de seus rasgos de brilhantismo: “Cabeça de ovo!”.

    Tentou puxar o saco da plateia: “Nós somos a maioria, acreditamos em Deus. A cultura judaico-cristã está em nosso meio”. Sim, eu pertenço à maioria que acredita em Deus, e jamais diria “nós” ao me referir a Bolsonaro — a não ser, digamos, nos caracteres humanoides que ambos exibimos…

    O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Fernando Lottenberg, considerou a iniciativa um “erro”. E lamentou: “Como era previsto, provocou divisão e confusão. Defendemos o debate pautado pela pluralidade”.

    Mas, ora vejam, pelo visto, há mesmo bolsonaristas entre os judeus, o que, sinceramente, me parece de um espantoso exotismo — ou falta de memória histórica.

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    O presidente da Federação Israelita do Rio, Herry Rosenberg, afirmou que “é perigoso quando resolvemos nos unir a outros fora de nossa comunidade para nos manifestarmos contra um problema de política comunitária. Pode levar a uma exposição negativa”.

    A fala foi recebida por alguns como crítica ao protesto. É claro que foi!

    É que havia não judeus entre os manifestantes contrários. Bem, se não preciso ser judeu, e não preciso, para entender a enormidade do Holocausto, igualmente não preciso ser judeu para concluir a incompatibilidade entre o convidado e a história do povo que lá estava representado.

    A fala do presidente da Hebraica-RJ, Luiz Mairovitch, saiu ainda pior: disse estar “aberto a ouvir ideologias A ou B. Importante é conhecer os perigos ou benefícios que um político pode trazer. Não adianta fingir que ele ou tal ideologia não existem”.

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    Pois é, doutor! A forma de reconhecer que existe é chamar o homem para dar uma palestra? Eu, por exemplo, não finjo que Bolsonaro não existe. Ao contrário. Ele existe, e combato as suas ideias. E, se judeus não podem ser os únicos a ter memória, uma coisa é certa: estão mais aptos do que qualquer outro grupo para saber as consequências odientas do preconceito e da truculência.

    Há outras ideias perigosas por aí, doutor… O senhor abrirá as portas do clube para elas?

     

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