OPOSIÇÃO E ÉTICA
Bem, se preciso, direi pela enésima vez: não estou atacando as medidas que o governo tem adotado para tentar minimizar os efeitos da crise. Ao contrário: acho que elas são necessárias. Critico, sim, é seu invólucro político. Há dias, num comício sei lá onde, com aquela retórica inflamada pela boa cachaça dos ataques aos adversários […]
O que há de diferente agora? O que temos hoje, que não existia antes? Uma oposição responsável — não confundir a responsabilidade, que elogio, com os momentos em que ela é nada mais do que anêmica. Agora, ninguém fica saracoteando em cima da crise, tentando arrancar dela dividendos eleitorais, sem se importar se o país vai ou não à breca. Sim, eis aí uma grande diferença.
Uma Medida Provisória confere mais poderes ao Banco Central de modo a agilizar suas respostas? Os líderes dos três únicos partidos de oposição que restaram — PSDB, DEM e PPS — se juntam e decidem que, com efeito, não é hora de faltar ao país. O socorro aos bancos pequenos está dado. Ninguém saiu por aí gritando que dinheiro público está sendo usado para salvar tubarões. Agora, como no período do Proer, o risco de quebradeira acaba ameaçando o cidadão comum, não é? As oposições resistem, de fato, é ao capricho do Fundo Soberano. Chega a ser irresponsável manter a proposta num momento como este, em que nem os comandantes das maiores economias do mundo sabem o que vai acontecer amanhã.
Assim, é o caso de chamar a atenção para aquele que é o ponto do petismo que mais repudio: a sua capacidade de, no poder, fazer rigorosamente o que atacava nos seus adversários quando era oposição, transformando-se em verdadeiro monopolista do bem, pouco importa de que lado esteja do balcão e se o que chama de “bem”, agora, era antes chamado de “mal”, de sorte que é o engajamento do partido numa determinada medida o que determina a sua natureza. Se o PT defende, então é coisa boa; se o PT ataca, então no presta. E defesa e ataque têm um único vetor: a conquista do poder.
A oposição não quer falar de política agora? Que faça como achar melhor. Eu falo.