Teocentrismo e antropocentrismo foram superados pelo “obamocentrismo”. O cerne da experiência humana — vá lá: da experiência ocidental —não é mais a fé, não é mais a razão. É Obama. O mundo se tornou obamocêntrico. E como é que se revela essa nova percepção do mundo?
Ela se manifesta através do “Maravilhoso” — das “coisas admiráveis”, para apelas à etimologia. Não é o mundo da fé. As considerações vulgares sobre a fé a tomam como o mundo mágico. É uma tolice. Os mágicos realizam prodígios. A fé verdadeira não exige evidências. O obamocentrismo também não é o muno da razão, da apreensão inteligente da realidade, num mundo de causas e conseqüências.
O “maravilhoso” é uma experiência segundo a qual as ocorrências vão se dando à medida que vão sendo pronunciadas. Basta afirmar que a novidade existe, e a novidade se materializa — ou melhor: é dada como materializada.
Leiam nos jornais do Brasil e do mundo. Obama MUDOU a política americana para o Irã. Mudou como? Contatos, digamos, subdiplomáticos estão sendo feitos para tentar convencer o país a mudar a sua política de apoio ao terrorismo e de desenvolvimento de armas nucleares. O Irã, como sabem, é central nos conflitos do Oriente Médio. E como agia Bush? Ora, com contatos subdiplomáticos para etc e tal. Sem contar que a União Européia fez de tudo para dissuadir os aiatolás de levar adiante o seu projeto nuclear. Pouco importa: Obama já mudou. Bastou que se anunciasse a mudança, e a mudança, para todos os efeitos, já aconteceu.
No obamocentrismo, todas as profecias se cumprem — desde que sejam as do obamocentrismo. E, para que se cumpram, basta que se anuncie o seu cumprimento. Assim como as eras da fé e da razão tiveram os seus propagandistas, também o obamocentrismo conta com seus sacerdotes: de esquerda, de centro, de direita… E o templo de sua pregação, para abarcar todos os meios de divulgação, é o que se chama por aí de “mídia”, com especial ênfase no jornalismo. Jornalistas e pensadores, no entanto, são sempre seres de segunda grandeza em momentos assim. A verdadeira Calíope dessa nova mitologia, não poderia ser diferente, é mesmo Oprah Winfrey.