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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O PT, o petismo e o lulismo

“O PT sempre conviveu com duas frentes: o petismo e o lulismo. O petismo é uma determinada concepção política. E o lulismo é um grande fenômeno popular, de empatia e de enormes setores da sociedade. Em 2010, de alguma forma, esses dois fatores estarão desassociados. É determinante estudar formas pelas quais a herança do petismo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h37 - Publicado em 12 mar 2007, 21h19
“O PT sempre conviveu com duas frentes: o petismo e o lulismo. O petismo é uma determinada concepção política. E o lulismo é um grande fenômeno popular, de empatia e de enormes setores da sociedade. Em 2010, de alguma forma, esses dois fatores estarão desassociados. É determinante estudar formas pelas quais a herança do petismo e herança do lulismo se manterão articuladas como referência importante para dar continuidade aos primeiros oito anos de transformação do País – de maneira que a ´revolução silenciosa´, tranqüila e democrática, se faça mais ruidosa”.

O que vai acima, entre aspas, é trecho de um documento do Campo Majoritário, a maior corrente do PT — cujo comandante inconteste é José Dirceu —, entregue à direção do partido. Será apresentado no 3º Congresso da legenda, previsto para julho. O documento também traz, segundo apurou o Estadão, críticas aos que estariam querendo uma “perestroika”no PT. É uma referência ao ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) e seu grupo, que defendem a refundação do partido. Como se vê, parece que o Campo Majoritário deplora o movimento iniciado por Mikhail Gorbatchev. Preferia a URSS… Só isso já mereceria um pequeno ensaio sobre mentalidades políticas. Mas não agora.

Sempre que alguém aponta a vocação do PT para se constituir como ente de razão disposto a tomar o lugar da sociedade e/ou a dirigi-la, surgem os inocentes para protestar ou relativizar: “Ora, o que é isso. Não superestimem o PT”. Sendo, como são, subestimados, os petistas chegaram aonde chegaram. Reparem, no trecho entre aspas, que se tenta criar uma espécie de contradição interna (do partido) entre o “petismo” propriamente e o “lulismo”. Parece que o primeiro seria mais “vertical”, mais profundo, mais complexo, uma verdadeira “concepção política”. Já o outro seria mais horizontal, mais alastrado, mas menos dogmático, característica típica de alguns movimentos de massa, não estranho — se pudéssemos colar o ouvido ao peito do PT, como diria Ivan Lessa — ao populismo mais rasteiro.

A análise é despropositada? Não é, não. Entendam: do ponto de vista do partido, ela faz sentido. Supor que Lula seja, sei lá, um marxista ou um gramsciano corresponde, evidentemente, a lhe emprestar uma envergadura intelectual, um peso teórico e uma disciplina de que ele é absolutamente incapaz. Já ressaltei o seu caráter bem mais macunaímico, um tanto preguiçoso. O que ele tem é um biografia e uma mística que servem perfeitamente aos propósitos de um partido de esquerda, que não abriu mão de fazer com que a história do país seja um capítulo de sua própria história, e não o contrário, como é normal nos partidos democráticos.

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Isso significa que Lula é um instrumento do petismo? Não. Não lhe darei esta vantagem: supô-lo mais ou menos inconsciente do movimento de que participa. Ao contrário. Às ilusões teóricas e mandonistas do PT, Lula emprestou o pragmatismo sindical, que tem uma larguíssima tradição de vigarice e oportunismo em qualquer parte do mundo. O PT, não se esqueçam jamais, é uma criação de Lula (dos sindicatos) e dos setores progressistas da Igreja Católica. Esses que se identificam como “Articulação” — e também seus adversários internos: Tarso Genro, sua turma e as correntes de esquerda — são sucedâneos da esquerda comunista que se aliou ao então suspeitíssimo sindicalista (no fim dos anos 70 e início dos 80, a aposta é que ele era mais um oportunista, que trairia a classe operária…) para fundar o PT. A intenção dos esquerdistas era se livrar de Lula no momento certo: ele ficaria com a reforma, enquanto os “genuínos” fariam a revolução — na lei (voto) ou na marra (a depender das condições objetivas, vocês sabem…).

Isso chegou a ter alguma importância interna? Chegou. Convertido à política, Lula (um ex-negociador muito camarada e compreensivo, contam empresários) fez-se uma voz radical, comandando um partido “de esquerda”. Lembram-se? O Plano Cruzado criou tabelamento de preços e caçava boi no pasto — mesmo assim, os petistas diziam que ele era “de direita”. Lula cansou dessa conversa mole e decidiu mostrar como se fazia num sindicato. Impôs a sua vontade ao PT e, na prática, eliminou a diferença entre “lulismo” e “petismo”, embora ela tenha resistido na teoria. Isso explica o documento do PT

Vocês notam, claro, que há ali subjacente a suposição de que existe um petismo sem Lula. Pode ser. A questão é saber se elegeria um presidente da República. Parece-me que não. Dos dois males possíveis — Lula deglutir a esquerda petista oriunda do pré-64 ou o seu contrário —, deu-se o “menos pior”. O Apedeuta enquadrou os aloprados e os fez partidários de uma visão mais pragmática de mundo. Mas isso não quer dizer, também, que ele não se deixou contaminar pelos delírios dirigistas da esquerda. O que ele fez foi fundi-los com a sua própria biografia, oferecendo-se como a encarnação da tal revolução democrática pretendida pelos utopistas.

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