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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O papa, o aborto, o moderno e o eterno

Francisco autoriza, agora de forma permanente, que sacerdotes católicos absolvam fiéis envolvidos com a prática do aborto. É uma boa decisão

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 21h17 - Publicado em 22 nov 2016, 07h57

O papa Francisco autorizou, agora de forma permanente, que todos os sacerdotes católicos possam absolver pessoas envolvidas com um aborto: tanto a mulher que sofreu a intervenção como o médico que a praticou. Essa era uma licença privativa dos bispos. Há quem veja na decisão do Sumo Pontífice um flerte com o aborto. Nada disso! Para a Igreja e para o próprio papa, a interrupção da gravidez segue sendo, nas palavras dele, “um crime horrendo” e um “pecado muito grave”.

A medida me parece, sim, acertada. Francisco vai dando concretude ao que há de mais virtuoso na tolerância: abraçar o pecador, mas não o pecado. Parece só retórica, jogo de palavras, mas é bem mais do que isso. Sem essa perspectiva, desaparece o perdão, que é um dos pilares da fé cristã. Assim, não se pense numa Igreja Católica que, em algum momento, vá condescender com a legalização do aborto ou com a sua aceitação. Essa Igreja de Francisco vai abraçar aquelas e aqueles que, tendo cometido, então, o que se considera um grave pecado, decidam confessá-lo, expressando também o seu arrependimento.

Para quem não é católico ou não tem crença, parece uma bobagem, uma irrelevância. Mas é uma questão importante para milhões de pessoas mundo afora que sabem estar em desacordo com os fundamentos da fé que decidiram abraçar. Acreditem: isso implica um sofrimento genuíno. E o que é melhor? Uma Igreja que abrigue, sem abrir mão de seus princípios, ou uma que exclua?

Se notarem, vão no mesmo sentido declarações do papa sobre divorciados e homossexuais. A Igreja não precisa abrir mão de seus princípios para abrigar a diversidade humana, e isso nada a tem a ver com feitiçarias retóricas como a Teologia da Libertação, que abandonou a dimensão transcendente para abrigar uma pauta que é de militância política — e, no caso, necessariamente de exclusão, porque pautada pela ideia da luta de classes.

A mulher, o homem e o médico eventualmente envolvidos com a prática do aborto, mas que não querem se sentir excluídos por sua igreja têm de encontrar o lugar da confissão, do arrependimento e do perdão.

E não, não emito essa opinião porque essa Igreja me parece mais adequada ao mundo moderno. Abrigando o humano, na sua precariedade, sem abrir mão de seus fundamentos, parece que se tem é uma Igreja mais comprometida com o eterno.

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