Digo aquele “infelizmente” porque o natural é que houvesse, como em qualquer democracia do mundo, veículos também de direita. Nos EUA, há. Na França, há. Na Espanha, há. Na Alemanha, há. Por que não aqui? Será que temos alguma lição a dar ao mundo em matéria de opinião pública?
Os veículos que se querem “alternativos” são todos, rigorosamente todos, de esquerda. Os grandes veículos são todos, rigorosamente todos, mais ou menos pautados pela esquerda. Quando não é em economia, é em cultura. Quando não é em economia ou cultura, é em comportamento. Dou um exemplo: raramente a Igreja Católica é tratada como uma referência positiva na imprensa brasileira. Umas senhoras aí de um grupo chamado “Católicas pelo Direito de Decidir’, acreditem, são tidas como o “outro lado” do Vaticano. Bento 16 fala, logo vão ouvir as ditas-cujas. Tornaram-se autoridades teológicas do catolicismo. O papa, afinal, é de todos os católicos. Seu “outro lado” é um grupo que nem mesmo é reconhecido pela CNBB como católico. É uma piada!
A chamada grande imprensa brasileira costuma ser tolerante — quando não apóia francamente — boa parte das ações que contrariam frontalmente a lei. Fazem-no em nome da legitimidade. Confunde-se, com alguma freqüência, o “outro lado” com a voz do crime. Caso se noticie o terrorismo do MST e da Via Campesina, é preciso, claro, ouvir “o outro lado”. Durante os ataques do PCC em São Paulo, um advogado de criminosos falava como “o outro lado” da Polícia.
Mais: o que nos chega da imprensa estrangeira, quase sempre, é também, da “esquerda” ou dos “progressistas” de lá. As eleições na França são um bom exemplo. No Brasil, Sarkozy teve uma amarga derrota. Quem lesse o Le Figaro, que está mais à direita na França, saberia que a derrota foi bem menor do que se esperava e que o segundo turno tende — tende! — a equilibrar o jogo.
Quem primeiro decidiu matar as ideologias, admito, foi a direita, quando o socialismo ainda existia. E o fez em nome da “eficiência”. Hoje em dia, na América Latina, esse discurso é flagrado, com mais freqüência, na boca das esquerdas que estão integradas aos establishment. A razão é simples: elas querem apresentar os seus valores como “consensuais”, como matéria de “bom senso”, como produto da “evolução do pensamento”, como um “imperativo categórico”, como um “laicismo moderno”.