Lula na favela: ele poupa o narcotráfico e critica a imprensa
No livro O Existencialismo é um Humanismo, Sartre, que ainda não estava gagá e não tinha aderido ao comunismo, ironiza uma das críticas que os católicos faziam ao existencialismo: “não se comove nem com o sorriso de uma criança”. Tá bom. Sei como funciona. Os antipetistas já procuraram aqui uma crítica ácida à presença de […]
No livro O Existencialismo é um Humanismo, Sartre, que ainda não estava gagá e não tinha aderido ao comunismo, ironiza uma das críticas que os católicos faziam ao existencialismo: “não se comove nem com o sorriso de uma criança”. Tá bom. Sei como funciona. Os antipetistas já procuraram aqui uma crítica ácida à presença de Lula na favela. Os petralhas já acessaram o blog para “ver o que aquele cara (estou sendo gentil, hehe…) falou de mais este sucesso presidencial”. Sou do tipo que se enternece com o sorriso de crianças — desde que ele não seja uma variante da propaganda partidária, governamental ou de estado.
O que Lula foi fazer na favela? Notem bem: foi anunciar um programa de reurbanização. Não foi inaugurar nada. Ou melhor, foi: Lula é um inovador. É o primeiro inaugurador de promessas da história brasileira. Seu antecessores, mais conservadores, costumavam inaugurar obras. Lula não. Uma mesma promessa pode render três ou quatro solenidades, de maneira que seu governo, inerme no que diz respeito à administração, é essa coisa buliçosa, cheia de viço aparente. O que é o PAC da favela? É um dinheiro que o governo federal promete investir na área, só que posto sob uma rubrica publicitária. Vamos ver.
Lula estava atrás de um ineditismo, como sempre. “Pela primeira vez, um presidente subiu o morro”. Nem sei se é verdade. Não interessa. Passou a ser. Montou-se uma operação de guerra, de limpeza do morro, e um estado — o que Lula representa — entrou no território do outro: o do tráfico. O presidente aprendeu com o Itamaraty que um governante não se mete em assuntos de economia interna na casa do visitante. Foi o que fez Lula. Não atacou os bandidos. Preferiu atacar a imprensa: “Não é justo o Rio de Janeiro aparecer nos jornais apenas nas páginas policiais. Do jeito que aparece, aqui está uma desgraceira só, quando não está”. E emendou: “Bandido tem em todos os lugares”.
Essa última frase é absolutamente verdadeira. Tem mesmo. No Brasil, eles costumam ficar impunes, cada um à sua maneira e segundo o seu ramo de negócio. Os que traficam drogas, por exemplo, costumam ter vida mais curta. Já os que traficam influência e verba pública, bem, infelizmente, estes duram mais, têm vida mais longa.
Não! Lula na favela não me comove. Sei que o evento enternece o coração dos tocadores de tuba. Outro trecho de seu discurso dá o que pensar: “Tem muito prédio público que o governo federal e o INSS não usam e fica guardando barata e outras coisas e deveria virar moradia para o povo. Vou cuidar disso com carinho na semana que vem.” Não sei o que quer dizer. Talvez Lula esteja falando em uma reforma urbana, matéria que seria afeita ao Ministério das Cidades. Na “semana que vem”, a gente vai saber do que se trata.
Qualquer ação nas favelas do Rio — ou de qualquer outra cidade — cujo eixo não seja a segurança pública não passa de parolagem, conversa mole, marketing. Ou, no máximo, o que se faz é juntar esforços com as ONGs que já operam na área: garante-se uma melhor infra-estrutura para que o narcotráfico possa continuar a manter a população como refém.
Agora ouçam a música dos tocadores de tuba.