Não! Eu sou favorável à existência de um estado palestino desde que fiquei sabendo, bem novinho, que esse confronto existia. Defendo dois estados na região. E sou contrário à expansão dos assentamentos na Cisjordânia — que é o que promete o Likud se vencer as eleições (sustenta que não tem como evitar a sua expansão; logo…).
A questão não é ontológica — não está na natureza essencial de judeus e árabes viver em guerra. Também não é epistemológica: se eles mudassem a maneira de ver o mundo, então tudo se aclararia (ainda que seja essa uma perspectiva sedutora).
Ehud Barak, primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, então líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), fizeram a pergunta certa em 2000 e encontraram a resposta certa.
A pergunta: “O que é preciso para que haja dois estados?
A resposta: “que os palestinos ponham fim ao terror e que Israel devolva os territórios ocupados”. Quase se chegou lá, não fosse o recuo de Arafat, que fez exigências que Barak não tinha como garantir sem que fosse deposto do governo de Israel. Mesmo sem acordo, ele caiu. Já escrevi aqui a respeito.
Como bem lembra Thomas L. Friedman no New York Times, enquanto houver o risco de um Hamas governar a Cisjordânia e, aí sim, causar graves danos a Israel com seus foguetes, não haverá a desocupação da Cisjordânia. É uma ilusão estúpida cobrar que os israelenses reconheçam o Hamas porque ele venceu as eleições. Isso não torna o movimento legítimo ou aceitável aos olhos daquele que os sectários querem destruir.
Ora, é evidente que a existência de dois estados passa por Israel deixar a Cisjordânia e pelo fim dos assentamentos — não apenas pela interrupção de sua expansão. Não é tarefa fácil, não. Poderia assumir a proporção de uma pequena guerra civil. A saída total de Gaza já foi traumática. Não se fará da noite para o dia, de uma vez só. Será necessário um longo período de negociação e de construção da confiança.
Mas essa construção é política. Enquanto o Hamas não renunciar ao terrorismo, nada feito. O “obamocentrismo” quer acreditar que o passeio de George Mitchell pela região vai ser útil? Pois que acredite. Gosta-se de alimentar a versão de que Israel não age a não ser com autorização dos EUA, o que é uma tolice.
Acho chato juntar “obamocentrismo”, George Mitchell e eleições em Israel num só parágrafo. Mas sou obrigado, não é? Se Mitchell emitir qualquer sinal ambíguo, que flerte longinquamente com o inaceitável para Israel — negociar com o Hamas —, estará dando um estímulo e tanto à vitória do Likud, que já é o favorito. Vocês sabem: as divergências entre Hamas e Fatah se resolvem com balas e execuções sumárias. As divergências entre os israelenses se resolvem com eleições.
O nefelibatismo jornalístico acredita que as limitações da realidade sabotam as chances de paz. Eu acredito que a realidade é a melhor saída. Por que não se começa por garantir o que Israel nunca teve nos últimos 61 anos: segurança? Em 1967 e em 1973, o país vislumbrou o próprio fim. Reagiu e venceu. A segurança que tem hoje não deriva do acordo com os árabes. Foi garantida com armas, não apenas com superioridade moral. Esse confronto não reproduz o simbolismo do ovo e da galinha. O novelo tem um fio, tem um começo: o fim do terrorismo. INCONDICIONALMENTE. E, então, se pode avançar.
O resto é mistificação do obamocentrismo.