Grécia: quando o “sim” pode ser “não”, e o “não, sim”
A maioria dos gregos pôs no governo um partido que prometia, desde sempre, dar o calote. Ou a renegociação seria feita em termos que os demais países da Zona do Euro consideravam inaceitáveis, ou Alex Tsipras, então líder do Syrisa, prometia não pagar nada. Muito bem. Ele venceu. Às 19h (hora do Brasil), acabou o […]
A maioria dos gregos pôs no governo um partido que prometia, desde sempre, dar o calote. Ou a renegociação seria feita em termos que os demais países da Zona do Euro consideravam inaceitáveis, ou Alex Tsipras, então líder do Syrisa, prometia não pagar nada. Muito bem. Ele venceu. Às 19h (hora do Brasil), acabou o prazo para a o país saldar uma parcela de 1,6 bilhão de euros com o FMI. E nada de pagamento. O governo grego deu o calote.
Tsipras é um fanfarrão. Foi-lhe oferecida uma saída: um novo plano de austeridade, que incluía aumento de impostos e corte de gastos, em troca da liberação de mais 7,2 bilhões de euros. Ocorre que o rapaz se elegeu na base do “nós não vamos pagar nada” e “já cansamos de fazer sacrifícios”. Então o populista miserável decidiu fazer um plebiscito: a população dirá no domingo “sim” ou “não” ao acordo. Como ele é um picareta, subiu no palanque para defender o “não” — o que é visto como um rompimento com a Zona do Euro.
Pesquisas de opinião, no entanto, apontam uma vitória do “sim” — o que, parece, tornaria insustentável a posição de Tsipras. Mas pergunto: caso vença o “não”, ele consegue se manter no poder? Não existe boa solução para a Grécia, mas o isolamento sempre será pior. Ainda que o malucão decida pôr o país na órbita da China ou da Rússia, o país passaria a ser uma espécie de pária na Europa.
Tsipras entregou um plano alternativo, em que pede a reestruturação da dívida de 321 bilhões de euros e um plano de resgate com prazo de dois anos. Os países da Zona do Euro consideram a proposta inaceitável. De todo modo, um movimento de Angela Merkel, chanceler da Alemanha, pode indicar uma saída — mas vai depender, em certa medida, do povo grego.
Merkel disse no Parlamento de seu país que, qualquer que seja a resposta, será preciso esperar o resultado do plebiscito. Paradoxalmente, se Tsipras perder e se a maioria dos votantes disser “sim” à proposta feita pela Zona do Euro, é possível que as exigências sejam amenizadas. O “sim” significará uma luz no fim do túnel, mas com a possível queda de Tsipras. Se, no entanto, vencer o “não”, aí será um sinal de que o doidão está mesmo na liderança do caos.
E, nesse caso, Deus tenha piedade dos gregos.
Em suma, se a maioria disser “sim” à austeridade, esta pode não ser tão feia como se pinta. Se disser “não”, aí é que o país vai conhecer o preço do calote.