Governo federal, desta vez, reage com prudência. Ou: Qual Edinho Silva está valendo?
Em qual Edinho Silva a gente deve acreditar? Há aquele que escreveu há três semanas uma carta aberta ao PT. Segundo disse, as manifestações eram coisa da “elite brasileira, insuflada por uma retomada das mobilizações da direita no continente”. Esse Edinho sustenta que as críticas ao governo derivam da ação de “entrincheirados” contra as “reformas […]
Em qual Edinho Silva a gente deve acreditar? Há aquele que escreveu há três semanas uma carta aberta ao PT. Segundo disse, as manifestações eram coisa da “elite brasileira, insuflada por uma retomada das mobilizações da direita no continente”. Esse Edinho sustenta que as críticas ao governo derivam da ação de “entrincheirados” contra as “reformas estruturais”. Imodesto, acredita que seu partido detém o monopólio do “campo progressista e transformador”.
E há o Edinho ministro da Secom, responsável pela comunicação do governo. Esse decidiu ser bem mais razoável. E quase disse a coisa certa. Só não é inteiramente certa porque até exagerou na defesa do pluralismo. Afirmou:
“O governo encara com normalidade. Entendemos que, dentro de uma democracia, todas as manifestações são legítimas e expressam o sentimento democrático como o Brasil”. A declaração foi dada depois de uma reunião com as assessorias de imprensa de todos os ministérios.
Eu, por exemplo, não acho que “todas as manifestações são legítimas”, havendo aquelas que, além de ilegítimas, são também ilegais. Não reconheceria a legitimidade de grupos que saíssem às ruas defendendo, por exemplo, discriminação, preconceito ou segregação de qualquer espécie. E o que as deslegitima? O pacto da civilização, que reconhece a todos a igualdade perante a lei.
São ilegítimas, além de ilegais, manifestações que se impõem pela violência, pela força, que depredam os patrimônios público e privado. Ou aquelas ações que agridem o direito de propriedade e que organizam a indústria de invasões. Infelizmente, como é sabido, o governo do PT negociou e negocia ainda com delinquentes políticos. Gilberto Carvalho, por exemplo, confessou que manteve interlocução com black blocs. Dilma Rousseff recebeu líderes do MST um dia depois de o movimento ter ferido 30 policiais militares na Praça dos Três Poderes.
Assim, se a frase de Edinho foi mesmo aquela, não concordo com ele. Mas é fato que, em relação aos que protestaram contra o governo Dilma nos dias 15 de março e 12 de abril, ele diz a verdade. Não houve um só ato de transgressão às leis; não houve uma só agressão aos fundamentos da civilização — exceção feita a meia dúzia de tolos, que pedem intervenção militar —, não houve uma só agressão à Constituição. Cobrar o impeachment de Dilma é absolutamente legal. Se há ou não motivos para isso, aí, sim, pode-se discutir.
Distorcer a pauta
É claro que o governo ou dá mostras de não entender o que se passa ou investe na confusão. Afirmou o ministro:
“Nós entendemos que, desde junho de 2013, existe um questionamento do modelo político brasileiro, da organização, da forma como o poder político está organizado. Isso é importante e tem que ser considerado. Existe um descontentamento em relação às instituições, e é natural da democracia. É importante que a gente possa tomar medidas que a gente aproxime o Estado brasileiro da sociedade civil”.
Está tudo errado. Em primeiro lugar, a pauta de junho de 2013 e a de agora são distintas. Em segundo lugar, os grupos que convocam as manifestações são distintos em tudo, a começar dos valores. Em terceiro lugar, por mais que se reconheça a necessidade de reformas — não as que o PT quer —, o descontentamento tem um foco: a roubalheira praticada no seio de órgãos oficiais e o que se entende ser tolerância, conivência, cumplicidade ou autoria do partido do poder: o PT.
A postura de agora é um avanço em relação a março, quando o governo decidiu dar pito nos manifestantes e desqualificá-los. Mas o entendimento da crise é ainda extremamente precário.