Vidal tinha graça quanto o mundo era um pouco mais seguro por causa da Guerra Fria, e se sabia que o desastre potencial final mantinha o mundo em equilíbrio. Tirar uma casquinha dos caipiras republicanos parecia uma coisa divertida. Os impérios sempre têm os seus críticos, que tanto seduzem os colonos da periferia. Mas esse mundo, de que os EUA eram o centro, também acabou. E a crítica de Vidal envelheceu. Falo isso até com certo desconforto porque gosto de alguns de seus livros: Myra Breckinridge (na edição que tenho; há uma com o título “Myron”), Criação, Juliano, De Fato e de Ficção, Palimpsesto. Alguns outros não consegui encarar até o fim: Lincoln, Washington, D.C., Império, livros, enfim, em que ele, como ficcionista, pretende ser historiador da América. De todo modo, havia uma provocante originalidade nas coisas que dizia, o mundo sempre visto do andar superior, com certo dandismo e esgar esnobe, um Oscar Wilde inatingível e inatingido pela moral vitoriana, embora com uma literatura inferior. Mas era uma personagem interessante.
Ficou bobalhão, como prova a entrevista publicada na Folha de hoje, em que ele e entrevistador fazem uma espécie de competição para ver quem consegue ser mais crítico a George Bush (íntegra aqui). Tornou-se a versão culta, elegante, do delinqüente Michael Moore, o que é uma pena.