Gerúndio, gerundismo e adjunto adverbial de tempo
Leitores pedem que comente essa história de “demissão do gerúndio” no governo do Distrito Federal, um decreto-galhofa do governador José Roberto Arruda (DEM). Bem, não se demite o gerúndio da língua, é claro, e a ação tem um sentido simbólico — além de ser uma boa sacada de marketing, como estamos vendo. Seus assessores têm […]
Seus assessores têm dito que ele demitiu o “gerundismo” (o “vou estar fazendo”) e não o gerúndio. Será? Na administração pública, acreditem, o segundo, que é “legal”, é mais nefasto do que o primeiro. Eu provo.
Perguntem a Lula como andam as Parcerias Público-Privadas.– Nós estamos tocando.
Perguntem a Lula como anda a reforma tributária.
– Nós estamos fazendo um projeto.
Perguntem a Lula como andam as obras do PAC.
– Elas estão se desenvolvendo.
Não, senhores! Acho essa história de Arruda só uma jogadinha esperta de marketing político, mas que fique claro: o que trava a administração pública não é o “gerundismo”, mas o “gerúndio” mesmo.
Chefio hoje esta equipe gigantesca de um só, aqui, de chinelo e bermuda. No passado, sempre me irritei com respostas gramaticalmente corretas, mas que eram pura enrolação:
– Já ouvimos fulano de tal?
– Estamos tentando.
– Ouvimos ou não?
– Não.
O gerúndio, bem-empregado, é um recurso da língua. Mas também pode ser um truque para fingir que as coisas estão andando — quando elas estão paradas. Nesse caso, é preferível, para tristeza da língua, um “vou estar entregando o projeto AMANHÔ a um “estamos redigindo o projeto”. Para a população, o adjunto adverbial de tempo é que é importante.