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Reinaldo Azevedo

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Evo e a Petrobras; Lula e o Efavirenz

Por Irany Tereza, no Estadão On Line. Volto em seguida:O acordo selado em torno das duas refinarias da Petrobras retomadas pelo governo boliviano marca o terceiro round perdido pela empresa para a Bolívia. “Primeiro foram as mudanças na produção de petróleo e gás, com a nacionalização e o aumento de tributação; depois, veio o acordo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h29 - Publicado em 11 Maio 2007, 01h17
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  • Por Irany Tereza, no Estadão On Line. Volto em seguida:
    O acordo selado em torno das duas refinarias da Petrobras retomadas pelo governo boliviano marca o terceiro round perdido pela empresa para a Bolívia. “Primeiro foram as mudanças na produção de petróleo e gás, com a nacionalização e o aumento de tributação; depois, veio o acordo do gás e o aumento do preço e agora, com o acordo do refino, a pauta da Bolívia se esgota de maneira prejudicial à Petrobras”, disse Felipe Cunha, analista de petróleo do Banco Brascan.
    Ele considera, porém, que não havia outra saída para a estatal brasileira e o prejuízo assumido pela empresa, calculado pelo mercado em torno de US$ 80 milhões – diferença entre o valor investido pela estatal e o que será recebido pelas unidades – é ínfimo diante dos resultados da companhia.
    “Contabilmente, é difícil calcular o impacto, mas, com certeza, será pequeno. A capacidade total de refino da Petrobras, no Brasil e no exterior, é de 2,227 milhões de barris por dia. A Bolívia representa 2,5% disso. O prejuízo afeta muito pouco e será diluído no resultado”, disse Cunha.
    Comparações
    Nesta sexta-feira, 11,, a Petrobras divulga o resultado financeiro alcançado no primeiro trimestre do ano. A expectativa do mercado financeiro é de lucro entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5 bilhões. O consultor Adriano Pires usa esse valor para fazer uma comparação com a pendenga boliviana. “O lucro da Petrobras em três meses será, pelo menos, 20 vezes o valor pago pelas refinarias. A decisão brasileira foi correta. A Bolívia saiu ganhando no curto prazo, talvez confiando na ajuda da venezuelana PDVSA, caso não consiga operar as refinarias. Mas, no médio prazo, sairá perdendo porque não vai mais haver investimento, as refinarias tornarão a ser sucateadas e a Bolívia vai empobrecer ainda mais”, afirmou.
    A analista de um grande banco, que tem como norma não divulgar pareceres sobre negociações empresariais, comentou que, mesmo não tendo provisionado o prejuízo com as refinarias no balanço deste ano, o valor é tão pequeno que poderá ser incluído em qualquer outra provisão da estatal. “Nem quando há ameaça de interrupção no fornecimento de gás, o que é muito mais grave, essa questão da Bolívia tem reflexo no valor das ações da Petrobras. A questão das refinarias, então, não terá o menor impacto. É mais uma questão moral que financeira”, disse.
    Em relatório do Brascan, o analista Felipe Cunha ressalta que a permanência da Petrobras na Bolívia acaba sendo prejudicial para a empresa. Cunha frisa que, entre os aspectos negativos vistos pelo mercado com relação à Petrobras, está principalmente a manutenção de investimentos arriscados em determinados países, “especialmente na Bolívia”. “Esses investimentos reforçam a percepção de risco político sobre a empresa”, disse. Adriano Pires destaca que o decreto anunciado pelo presidente Evo Morales no último domingo, com a apropriação do controle da venda de derivados e a fixação de US$ 30 para o barril de petróleo, praticamente zerou o valor de mercado das refinarias. “Quanto mais tempo a Petrobras permanecesse com esses ativos, mais teria prejuízo.
    E, diante do nervosismo dos movimentos sociais na Bolívia, não se sabe também que conseqüências danosas e imediatas poderiam resultar de um pedido de arbitragem internacional pela Petrobras. O que o (presidente) Morales fez foi um desrespeito”, disse o consultor.

    VolteiComo deixa claro a reportagem do Estadão, o prejuízo da Petrobrás — na verdade, do Brasil —, estimado em algo em torno de US$ 80 milhões, é, digamos, pequeno, considerados os número da empresa como um todo. Mas este não é o ponto. Evidentemente, a venda das duas refinarias se dá em razão de uma imposição do governo da Bolívia e é o ponto culminante de uma escalada. Estimulada, diga-se de passagem, também por Lula. O presidente brasileiro julgava ter como aliado seu “querido Evo”, mas quem estava dando as cartas na Bolívia era o coronel Hugo Chávez.

    Os técnicos da Petrobras podem deixar o país? Se quiserem, podem. A empresa, na prática, será encampada pela PDVESA, venezuelana. Quem deu um passa-moleque de US$ 80 milhões no Brasil foi Chávez, aquele que Lula já classificou certa feita como “democrático até demais”. Lembram-se disso? E para a Bolívia? Bem, o país segue a trajetória da tragédia de sempre. As refinarias foram reestatizadas. E vai caminhar para o sucateamento, porque esse é o destino de um país que deixa claro que é hostil a investimentos estrangeiros, até mesmo aqueles feitos por um país com quem há um inquestionável alinhamento ideológico.

    Nesse ponto, é importante fazer uma consideração. Evo deixou Lula sem saída a não ser vender a Petrobras com prejuízo. É certo que o Apedeuta não gostou do encaminhamento da questão. Mas é preciso entender que a prática de Evo não é alheia ao discurso de Lula. Ora, lembram-se do discurso do Babalorixá quando quebrou a patente do Efavirenz? Evo poderia ter dito hoje: “Não é possível alguém ficar rico com a desgraça dos outros. Não só do ponto de vista ético é uma grosseria, como, do ponto de vista político-econômico, é um desrespeito”. Foi o que falou Lula, ameaçando, inclusive, quebras outras patentes. É isso aí: cada “pobre” toma aquilo que acha justo.

    Isso significa que não há grande diferença entre a ação de Evo e de Lula. Na prática, eles estão juntos, pertencem a um mesmo grupo de políticos que transferem aos “imperialistas” as responsabilidades pelos nossos problemas. Ocorre que há países mais pobres do que o Brasil. Para os bolivianos, o império mais próximo é o comandado por Lula.

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    O ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, disse que o preço é justo. É uma fala ridícula. Como pode ser justo se é inferior até mesmo à soma do que o país pagou em 1999 pelas duas refinarias mais o que se investiu ao longo de oito anos? A verdade é que Lula foi obrigado a ceder a Petrobras para os bolivianos porque estava sob a ameaça de corte no fornecimento de gás, mesmo com os preços reajustados. E só é assim porque a Bolívia é um país que não dá bola para contratos. Se a política pedir, Evo e Lula dizem que “ninguém pode ficar rico com a desgraça dos outros” e mandam as regras às favas.

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