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“Eu sou ‘o do poste’! Sabe com quem está falando?” Essa é a fala do “Dimenor”-celebridade ao ser detido, roubando de novo! Ou: Ensaios sobre a cegueira

A jornalista Rachel Sheherazade foi mandada para um poste moral por conta de um comentário que fez quando um menor que costuma praticar roubos foi atado por moradores a um poste com uma tranca de bicicleta. Já escrevi a respeito e deixei claro que não concordo com boa parte da abordagem que ela fez. Mas […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h24 - Publicado em 21 fev 2014, 17h59
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  • A jornalista Rachel Sheherazade foi mandada para um poste moral por conta de um comentário que fez quando um menor que costuma praticar roubos foi atado por moradores a um poste com uma tranca de bicicleta. Já escrevi a respeito e deixei claro que não concordo com boa parte da abordagem que ela fez. Mas parte da sua observação era e é procedente. Quando afirmou ser “compreensível” que moradores tomem suas próprias medidas, não quis dizer que é desejável, que o caminho é esse. Fizeram, evidentemente, uma superinterpretação de sua fala porque a consideram ideologicamente incômoda.

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    Muito bem! O mesmo menor voltou a delinquir e voltou a apanhar. Vocês sabem a mania que tem esse povo cruel de não gostar de ser assaltado, né? Pô! As vítimas desses “dimenores” têm de entender que estão apenas dando a sua cota a uma política informal de distribuição de renda, poxa! Mais: existe luta de classes, como todos sabemos, e os assaltados integram o grupo dos bandidos; os assaltantes é que são os verdadeiros mocinhos. Como é que ninguém percebe isso?

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    Reproduzo, em vermelho, trecho da reportagem de Leslie Leitão, na VEJA.com. Volto em seguida:
    O jovem assaltou, com outros quatro rapazes, uma turista canadense na Avenida Atlântica. Em seguida, o bando tentou roubar os pertences de um turista inglês. Esta vítima, no entanto, reagiu, e correu atrás dos garotos. Um grupo de pessoas que presenciava a cena decidiu cercar os fugitivos, mas só conseguiu deter dois deles.

    Começou, então, uma sequência de tapas. Sentindo-se acuado, o menor que ficou preso pela tranca no início do mês lançou mão da fama que angariou naquele episódio: “Eu sou o do poste! Parem de bater”, gritou.

    E, de fato, as agressões cessaram. Os dois jovens foram mantidos no local até a chegada da Polícia Militar. E, novamente, na delegacia, o jovem do episódio do poste voltou a se identificar como tal, para se proteger de agressões: “Você sabe com quem está falando? Eu sou o menor da tranca”, disse, aos policiais.

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    Voltei
    Se há dote que bandido de qualquer idade ou classe social tem é o de aprender com a experiência. É evidente que o “Dimenor” percebeu que virou uma celebridade. Tive informações de que, talvez, ele seja portador de um déficit intelectual importante — hipótese que tem de ser investigada e que deve, então, merecer a devida resposta do estado —, mas a agilidade com que ele apelou ao “sabe com quem está falando?” sugere o contrário. Não estou afirmando, mas fazendo uma conjectura.

    A fala do rapaz ao ser preso, mais uma vez, evidencia como aquele episódio distorceu a verdade dos fatos. Apegaram-se mais ao simbolismo piegas do que à realidade. Sintetizo o espírito de certas intervenções:
    “É a imagem de um país que cultivou a escravidão por mais de 300 anos!”
    “Não fosse um negro, não fariam isso”.
    “Eis mais uma prova de racismo”.
    “É o povo brasileiro que está no tronco”.

    Quanta bobagem!
    Quanta vigarice!
    Quanta conversa mole!

    Até parece que brancos não são linchados todos os dias Brasil afora. O YouTube traz uma penca de horrores. Até parece que fazer justiça com as próprias mãos é algo assim tão raro num país em que há mais de 50 mil homicídios por ano — sem que se saiba, na esmagadora maioria das vezes, a autoria.

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    Amarrar bandidos em poste resolve alguma coisa? Não! Torna ainda pior o que é ruim, mas é evidente que não é possível criminalizar, por princípio, a sociedade que reage. É preciso coibir, sim, a justiça feita pelas próprias mãos, mas é preciso compreender, então, a natureza do fato.

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    O rapaz atado ao poste não era expressão de racismo, da crueldade com que são tratados os pobres, da perversidade das elites, nada disso! Até porque, atenção!, ESSES JUSTIÇAMENTOS SÃO FEITOS POR POBRES — a esmagadora maioria de pobres que decide trabalhar, que decide estudar, que decide ganhar a vida honestamente. Um país em que o rendimento médio do trabalhador é pouco superior a R$ 1.900 — você que me lê: tente morar com isso, pagar escola com isso, ir ao cinema com isso, comer com isso — é um país… pobre!

    A reação àquele episódio lamentável foi para o lado errado! Os pruridos politicamente corretos vieram à flor da pele como urticária ditada pela boa consciência. E só.

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    Mesmo discordando de boa parte da fala de Sheherazade — que foi mandada para o poste —, a verdade insofismável é que ela estava mais no assunto do que boa parte dos textos lacrimejantes e hipócritas que se escreveram a respeito.

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