Equilibrando a bola na ponta do nariz. Ou: Não é o teto que define o centro; é o centro que define o teto
Não quero ser nem parecer desrespeitoso, mas pergunto: a equipe econômica vai também tentar equilibrar uma bola na ponta do nariz, como aquelas simpáticas focas? Por que pergunto isso? O Conselho Monetário Nacional decidiu reduzir a margem de tolerância para a inflação em 2017: o teto da meta passa a ser de 6%, não de […]
Não quero ser nem parecer desrespeitoso, mas pergunto: a equipe econômica vai também tentar equilibrar uma bola na ponta do nariz, como aquelas simpáticas focas? Por que pergunto isso? O Conselho Monetário Nacional decidiu reduzir a margem de tolerância para a inflação em 2017: o teto da meta passa a ser de 6%, não de 6,5%, como é hoje. O centro continua em 4,5%.
Não, meus caros! Dilma nunca cumpriu o centro da meta, cujos números são estes, de 2011 a 2014: 6,5%, 5,84%, 5,91% e 6,41%. O prudente, obviamente, teria sido buscar o centro. À medida que o governo passou a trabalhar na margem, em vez de 6,5%, vai fazer mais do que 8%.
O CMN é formado pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do Banco Central. Olhem aqui: eu não sou economista e me dedico muito menos à economia, como jornalista, do que me dedico à política. Mas sei alguma coisinha de lógica.
Acho que a equipe econômica — e o Banco Central em particular — tem de ter credibilidade para fazer uma coisa como essa. O que me parece é que se está fazendo a operação contrária: reduzindo o teto da meta em busca da credibilidade. E, meus queridos, nesse caso, ninguém acredita.
Digamos que o governo Dilma tivesse feito até aqui um esforço realmente brutal para cumprir os 4,5%. Ainda que tivesse escapado um pouquinho, todos compreenderiam e saudariam o novo teto de 2017. O que se viu nos quatro anos anteriores, no entanto, foi um dar de ombros para os 4,5%. Para que reduzir de 6,5% para 6% o limite de 2017?
CARAMBA! NÃO É O TETO QUE DEFINE O CENTRO, É O CENTRO QUE DEFINE O TETO.
Consta que o maior defensor da redução do limite de 6,5% para 6% é o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que não é um mau sujeito. Acho, sinceramente, que é um homem bem-intencionado e que quer acertar. Todo indivíduo racional tem um quê de místico, de supersticioso. Levy deve considerar que, assim, aumenta a confiança, passa a imagem de seriedade e, quem sabe, alterando as expectativas, baixe a inflação.
Sabendo muito menos de economia, tendo a achar que, se o governo realmente demonstrar compromisso com as contas, tomar as medidas corretas, não flertar com a inflação, aí acho que ela cai. Quando, mantendo o centro da meta em 4,5%, o governo entregar 4%, aí o teto poderia ser de 5,5% — um teto para não ser atingindo, e não aquele no qual se sobe para supostamente vislumbrar um futuro brilhante, como fizeram Guido Mantega e Dilma.