Leiam o que vai abaixo. Voltaremos a falar a respeito nesta sexta:
Por Leonencio Nossa, no Estadão:
Seis meses depois do Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a expulsão dos arrozeiros da reserva Raposa Serra do Sol, os índios de Roraima estão em busca de parcerias para se tornarem arrozeiros. Nessa nova vocação, os índios se aproximaram do Movimento dos Sem-Terra (MST), que procura projeção no extremo norte do País.
O MST foi a primeira entidade a topar um acordo com lideranças da reserva. O movimento se dispôs a treinar técnicos indígenas em suas escolas no Rio Grande do Sul e doar dez mil quilos de sementes de arroz orgânico. Em um segundo momento, a consultoria poderá ocorrer na própria reserva.
Líderes indígenas negam que tenham demonstrado interesse em arrendar terras para o movimento, como se especulou durante a semana em Roraima.
A legislação proíbe o arrendamento de terras da União, como é o caso de toda reserva indígena. “O que a gente quer é parceria para transferência de tecnologia”, diz a uapixana Pierlângela Nascimento da Cunha. “A lei é clara sobre isso.”
Presidente da Federação Indígena, entidade que reúne nove organizações existentes em Roraima, ela afirma que as comunidades não querem fazer produção em grande escala e que o projeto do arroz orgânico, em fase experimental, será levado apenas para comunidades que demonstraram interesse e têm tradição em lavouras. A reserva é formada por 199 comunidades em diferentes estágios de contato com a sociedade nacional. “A área de arroz foi toda destruída, a terra ficou sem nada, sem benfeitorias e lavouras, o que queremos é recuperar parte do plantio para subsistência.”
À exceção de Rondônia, o MST não tem força nos Estados da Amazônia Ocidental. No Amazonas, no Acre e em Roraima, o movimento busca adeptos e bandeiras. A estratégia de defender novas bandeiras deu certo no sudeste do Pará, onde o movimento viu aumentar o número de adeptos a partir de mobilizações contra a Vale. Não é a primeira vez que o MST tenta associar o nome a um local símbolo da Amazônia. Nos últimos anos, os sem-terra têm buscado parcerias com sindicalistas do antigo garimpo de Serra Pelada.
Júlio Macuxi, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), é um dos mais entusiasmados com a parceria com o MST. Ele diz que o movimento é a única entidade com tecnologia na produção do arroz orgânico.
Na avaliação do líder indígena, o MST terá a oportunidade de mostrar que não é apenas uma entidade que “fica batendo nos outros”. “O MST tem tecnologia, e é isso que nós queremos.”
À frente do departamento de Projetos e Convênios do CIR, Júlio avalia que o campo de expansão do MST na Amazônia está longe das terras indígenas que é de usufruto apenas das comunidades nativas. “Na Amazônia tem muito grileiro e gente sem terra e sem moradia no entorno das grandes cidades como Manaus e Belém”, observa. “A publicidade do MST não vai contra os nossos interesses e direitos.” Aqui